quinta-feira, 28 de maio de 2009

josef h. reichholf

"Relacionar a História e a História Natural é uma tarefa grande demais para somente uma pessoa dar conta. Isso não muda em nada o fato de que ela se faz necessária"
josef h. reichholf
Josef H. Reichholf é biólogo especializado em Evolução. Além disso, ele é professor de Proteção Ambiental na Universidade Técnica de Munique. Reichholf também dirige, como conservador-chefe, a Seção de Animais Vertebrados na Coleção Zoológica Estatal de Munique, e faz parte da presidência do World Wildlife Fund (WWF) da Alemanha. Em paralelo, ele ainda escreveu cerca de meia dúzia de livros sobre temas referentes à Biologia e à Evolução. Agora ele buscou estabelecer as relações entre a História da Humanidade e a História das Mudanças Climáticas, algo que ele conseguiu de forma bastante interessante. No entanto, de maneira nenhuma ele tenta esclarecer os eventos históricos somente a partir das condições climáticas, como alguns poucos críticos afirmam. O que ele quer é mostrar em que medida as condições climáticas, ao serem modificadas, influenciaram a ação das sociedades humanas (e vice-versa).À sua observação da história da Europa nos últimos mil anos, Reichholf acrescenta ainda uma retrospectiva, que se estende até a última Era do Gelo, para ilustrar, em que períodos é possível observar desdobramentos climáticos. Assim fica claro que o período de tempo de um milênio, extremamente curto do ponto de vista climático e geológico, não representa nada além da última fase, até o presente momento, de um desdobramento inconstante e de difícil previsibilidade.A retrospectiva de Reichholf começa na fase tardia da última Era do Gelo, quando o homem moderno (Homo Sapiens) chegou à Europa, há cerca de 30.000 anos, e lá viveu como caçador e coletor. Com o fim da Era do Gelo, há cerca de 10.000 anos, as circunstâncias climáticas mudam pouco a pouco. Os níveis do mar sobem e as temperaturas ficam cada vez mais moderadas. Isso propicia o começo da lavoura e criação de gado, primeiros agrupamentos humanos e construção de templos.No entanto, também dentro da Era Quente ("Holoceno"), que se prolonga até hoje, havia períodos mais frios e mais quentes, que quase não transcorreram paralelamente às grandes mudanças históricas. De modo que a ascensão e apogeu do Império Romano se passou durante um período quente, enquanto que as grandes migrações populacionais européias ocorreram entre os séculos 4 e 6 D.C., quando fez bastante frio no norte da Europa. Com o começo da Idade Média, pouco antes da virada do milênio, o clima voltou a esquentar e ofereceu condições favoráveis aos homens, seu desenvolvimento e proliferação. É aqui então que Reichholf começa sua descrição detalhada. Reichholf vê um indício importante da estreita relação entre as histórias da natureza e do homem no vigoroso crescimento da população em condições climáticas favoráveis, às quais se seguem atividades de expansão muitas vezes agressivas e em modalidades diferentes. Como exemplo, ele cita as invasões e viagens de descobrimento dos vikings, assim como as Cruzadas cristãs e as conquistas dos mongóis. Todas essas empreitadas só puderam acontecer porque as sociedades tinham um grande excedente de jovens, que não podiam herdar terras e por isso representavam um perigo para a estabilidade daquelas sociedades. Então eles eram enviados em missões honradoras, das quais pouquíssimos voltavam. Reichholf ressalta o tempo todo que isso não deve ser entendido como uma "estratégia de descarte" planejada pelos que governavam, mas sim a partir de uma perspectiva historicamente distanciada. Seu objetivo é trazer o clima, como um outro importante fator, para a discussão.Reichholf também apresenta variadas evidências para suas teses em relação aos séculos do fim da Idade Média e início da Era Moderna. Durante a fase da chamada "Pequena Era do Gelo", entre os séculos 15 e 18, que trouxe condições de vida muito difíceis ao centro da Europa, o poder político e militar se deslocou, assim como a prosperidade econômica, em direção ao sudoeste, mais quente, na península ibérica. Já no centro da Europa aconteceram guerras devastadoras e uma forte dizimação da população por conta dos conflitos, catástrofes naturais e epidemias.Uma nova fase quente teve início no século 19 e originou uma imagem da natureza na Europa central que até hoje é tida como ideal por muitas pessoas. A natureza domada dos parques na Europa central, que é vista como contraponto à cidade industrializada, torna-se o objeto favorito da poesia e da pintura. O fato de que ela é resultado do jogo entre os fatos climáticos, a exploração intensiva da agricultura e a configuração da paisagem, pelas mãos dos homens, muitas vezes é esquecido. Na base dessa compreensão da natureza está um registro instantâneo, histórico, da Europa Central, observando-se exclusivamente o ponto de vista da história natural.Tendo em vista a atual discussão em torno da relação entre as emissões de gás carbônico e o aquecimento global, Reichholf chama a atenção para os fatos que ele estima com muito mais perigosos para o equilíbrio climático. Ao lado das queimadas nas florestas tropicais, feitas a fim de criar pasto para a pecuária, ele vê a constante eutroficação das terras para a lavoura e o envenenamento dos lençóis freáticos como fatores primários de dano ao clima e ao meio-ambiente.O livro de Reichholf é uma tentativa de tornar mais objetiva a discussão atual em torno do clima, sem diminuir os perigos. Sua crítica se dirige a auto-proclamados profetas, que gostariam de impor a todo o globo sua noção da natureza, enviesada por uma percepção exclusivamente oriunda da Europa Central. E que estão presos a uma imagem estática da natureza.Sua crítica também se dirige ao estilo de vida ocidental, cujo objetivo máximo é o consumo massivo de mercadorias e serviços. Muitas vezes fica no ar a dúvida de que o homem será capaz de agir de modo sensato, a longo prazo, como espécie, ou se haverá apenas alguns poucos que vão conseguir se impor. Pois Reichholf não duvida nem um pouco do fato de que o homem conseguirá se adaptar às mudanças no futuro.

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