sexta-feira, 1 de maio de 2009

Guimarães Rosa

é tema de um simpósio internacional, que acontece durante três dias na capital alemã. Ligia Chiappini, professora da Universidade Livre de Berlim, fala sobre o evento.O título do simpósio em Berlim é: "João Guimarães Rosa. Espaços e caminhos: dimensões regionais e universalidade". Por que o interesse específico por esses dois aspectos, o regional e o universal?Ligia Chiappini: Esse é um tema atual desde que se fala de um mundo transnacional. Guimarães Rosa também é visto como sendo ou não regionalista. Segundo uma corrente de pensamento, ele supera o regionalismo. Para outros, ele se mantém regionalista. Guimarães Rosa é tão local, que acaba sendo universal, porque vai ao fundo da alma humana, e ao fundo dos problemas que são hoje muito atuais. Entre outros, o problema da violência.No cerne da questão está o fato de se tratar de um grande escritor, mas ainda desconhecido na Alemanha, por incrível que pareça. Talvez isso se deva, inclusive, à dificuldade de tradução dessa linguagem tão elaborada, que une justamente o local ao global. Nas palavras que ele compõe, dialogam várias línguas. Nas expressões que ele usa, dialoga o dialeto regional do sertanejo. A questão da universalidade se coloca quando se fala de um grande escritor, como é também o caso de Marcel Proust, Thomas Mann e outros grandes escritores do século 20.
Poderia falar um pouco sobre as oficinas que serão oferecidas durante o simpósio?Uma das oficinas trata deste problema da reedição e da tradução de Guimarães Rosa na Alemanha. Quando se fala em reeditar, logo se diz: isso é uma tarefa muito longa, muito difícil e muito cara, pois é necessário "retraduzir", já que as traduções envelhecem. Essa é uma das teorias. A outra diz que as boa tradições não envelhecem. Vamos discutir esse problema a partir de um exercício criado para um pequeno concurso, que foi o de traduzir para o alemão um conto que nunca havia sido traduzido anteriormente para o idioma: Fita verde no cabelo. Trata-se de um conto muito pequeno, mas muito difícil.Além dos tradutores que participaram do concurso, coordenado por Sarita Brandt), farão parte das discussões profissionais atuantes em editoras e professores. Serão discutidas questões como a dificuldade desta tradução específica, mas também debatida a viabilidade de traduzir e reeditar Guimarães Rosa na Alemanha. Isso é apenas o começo de uma discussão que deve ser levada adiante.A segunda oficina acontece a partir de um concurso de ensaios com estudantes europeus, entre estes alemães, naturalmente, que participaram de cursos no continente durante os anos de 2007 e 2008. Esses cursos intitulados Guimarães Rosa em rede européia contaram com a participação de professores e estudantes de Portugal, da França, Itália, República Checa e Alemanha.
Primeiramente, foram organizados cursos. Dialogamos durante todo este tempo pela internet e os estudantes que tiveram seus ensaios escolhidos estão vindo para Berlim. Eles terão a oportunidade inédita de ler seus ensaios e discuti-los com os especialistas presentes. O objetivo é fazer com que as novas gerações trabalhem e conheçam Guimarães Rosa.Qual é o alcance do simpósio?O simpósio é aberto ao público. As oficinas acontecem no Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Livre de Berlim e a abertura no Instituo Ibero-Americano (IAI), com uma palestra da nossa convidada de honra, Walnice Nogueira Galvão, que é a maior especialista no mundo em Guimarães Rosa. No IAI, será aberta uma pequena exposição com o acervo do autor.Os dois dias seguintes do simpósio acontecem na embaixada brasileira em Berlim, com palestras, filmes, discussões. O simpósio se encerra na quarta-feira (3/12), com uma palestra de Vilma Guimarães Rosa, filha do escritor, que por sua vez também é escritora e vai dar um depoimento sobre o pai.

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