Desde quando se interessou pela obra de Gabriele Wohmann e o que mais a atrai na produção da escritora alemã? Rosvitha Blume – Acho que foi em 1999 que li pela primeira vez alguns contos de Wohmann, que me fascinaram imediatamente pela profundidade com que tratavam da vida privada de seus personagens, freqüentemente mulheres, mas também homens, em conflitos consigo mesmos e com as pessoas de sua convivência mais próxima. Fiquei encantada com a sensibilidade com que a autora trata de temas íntimos e comumente pouco abordados na literatura, justamente as ‘pequenas’ tragédias do cotidiano, muito distantes da grande cena pública. Como situa a autora no contexto da moderna literatura alemã e européia? Rosvitha – Gabriele Wohmann é um dos nomes mais conhecidos da geração de escritores filhos da guerra. Nascida em 1932, iniciou sua carreira literária no final dos anos 50. Já nos anos 60 tornou-se famosa pelos seus contos curtos, semelhantes à “short story” americana. Recebeu inúmeros prêmios literários ao longo de mais de quatro décadas de intensa produção literária. Hoje, aos 75 anos de idade, ainda escrevendo, continua sendo considerada uma das mais criativas e perspicazes contistas do cotidiano alemão. As mulheres constituem o centro das ações nos contos escolhidos. Isso foi uma opção deliberada ou a obra de Gabriele se ocupa essencialmente desse tema? Rosvitha – Esse foi um dos meus critérios de escolha. Eu diria, e defendi isso em minha tese de doutorado (2005, na UFSC), que a obra de Wohmann trata essencialmente do tema da mulher, muito embora a autora tenha rejeitado, ao longo de sua carreira, qualquer rotulação feminista.
Ela é extremamente mordaz e crítica em relação à sociedade alemã. Isso faz dela uma escritora diferenciada ou esta seria uma tendência da atual produção literária em seu país? Rosvitha – Gabriele Wohmann é conhecida na Alemanha como ‘a escritora do olhar maldoso’. Nesse sentido ela ocupa, sim, um lugar especial entre os autores de sua geração. Ela sabe ser extremamente mordaz, expondo por vezes de um modo quase cruel as mazelas de seus personagens, geralmente femininos. Na verdade, os contos refletem um pouco da dificuldade que as mulheres, especialmente da (pequena) burguesia alemã, encontraram para concretizar em seu cotidiano os discursos de libertação e auto-realização da mulher tão apregoados a partir dos anos 60. Tem planos para traduzir mais livros de Gabriele ou de outros autores alemães pouco conhecidos no Brasil? Rosvitha – No momento estou concentrada na ‘descoberta’ de contistas alemãs muito jovens, como Juli Zeh, Silke Scheuermann, Julia Frank, entre outras, cujas personagens são, também, mais jovens e mais emancipadas do que as de Wohmann. É um novo século, uma nova geração e também um novo ‘tom’. Pretendo publicar uma antologia com traduções de alguns desses contos num futuro próximo.
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