quinta-feira, 28 de maio de 2009

christa wolf

Uma viagem à Grécia e a leitura de Oréstia de Ésquilo fazem emergir Cassandra do passado mítico. Frente à ameaça de uma guerra nuclear e à catástrofe ecológica destas últimas décadas, Chista Wolf descobre em Cassandra a voz trágica que denuncia a guerra, a tirania e o patriarcado como as marcas de uma mesma história ocidental. A Cassandra de Christa Wolf não deve, portanto, o dom divinatório a poderes divinos, mas à sua história pessoal e ao seu amor à verdade, que lhe permitem distanciar-se do palácio, ao qual pertence. A lucidez assim conquistada deverá enfrentar-se com a cegueira histórica de seus conterrâneos, incapazes de reconhecer em si mesmos os autores da própria desgraça. A maldição que Apolo faz pesar sobre Cassandra - de que ninguém creria em suas profecias - é, assim, reinterpretada por Christa Wolf numa concepção moderna da tragédia, onde o destino não é o desígnio aleatório das Parcas, mas o resultado das opções humanas acumuladas na nossa história.

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