quinta-feira, 30 de abril de 2009

Tim Berners-Lee

Hoje, o senhor se arrepende de não ter patenteado a web?TIM BERNERS-LEE: Não. A web só decolou porque não estava vinculada a nenhum sistema proprietário, pelo qual as pessoas teriam de pagar para ter acesso. Digo isso porque, antes da web, muitas idéias de sistemas fracassaram. Eram semelhantes ao que criei, mas não eram abertos.Muitas coisas na web são construídas de forma colaborativa, como a Wikipedia, a enciclopédia da rede. Essa cultura tende a crescer?BERNERS-LEE: Acredito que sim. Desenhei a web para que fosse um espaço colaborativo. Esse é o espírito da coisa. O que está acontecendo mostra que as pessoas têm a necessidade de exercer a criatividade juntas. Participação demais pode piorar a confiabilidade do conteúdo. Como tornar a web mais confiável?BERNERS-LEE: Acho que a rede não é diferente de nenhuma outra fonte de informação. Em qualquer situação, é preciso saber sua procedência. Na web, quando seguimos links de boas fontes, as informações podem ser confiáveis. Por que a www proliferou tão rapidamente?BERNERS-LEE: Um dos motivos é o que chamo de "gratificação instantânea". É isso o que as pessoas sentem ao construir uma página na web e,imediatamente, vê-la pronta em um navegador. Também é possível copiar a página de uma pessoa para fazer a sua. A tecnologia é simples e foi criada justamente para facilitar as coisas. O que contribuiu para a criação da web?BERNERS-LEE: Na época, eu vivia no mundo da física de alta energia, que era uma comunidade quase perfeita para adotar esse tipo de ferramenta. Eu trabalhava no Cern (centro europeu de pesquisas voltado para o estudo das partículas) e tínhamos alguns problemas sérios. Havia pessoas participando de alguns projetos mas que estavam separadas por longas distâncias e usando sistemas de computadores diferentes. As ferramentas que criei resolveram esse entrave. Também existiam pessoas brilhantes dispostas a encarar um novo sistema virtual integrado.
Quem vai vencer: os que querem controlar a internet ou os que querem mantê-la como é hoje – livre e com o conteúdo acessível a qualquer pessoa?BERNERS-LEE: Essa é uma batalha constante, mas o acesso não-controlado à informação é tão importante para as pessoas que elas sempre lutam duramente contra qualquer tipo de restrição. É verdade que alguns governos ainda tentam criar limites nesse campo, mas acredito que, pelo menos a longo prazo, eles terão de mudar de postura. Só com o tipo de liberdade da web um país pode realmente ser mais competitivo econômica e cientificamente. O senhor já se sentiu responsável pelos problemas criados pela web, como novas modalidades de crime?BERNERS-LEE: Não acredito que eu possa ser responsabilizado nem pelo que há de bom nem pelo que existe de ruim na web. Não mais do que os inventores do papel podem ser responsabilizados pelo que é feito com ele. A web é um meio neutro. Mas acho importante que todos os engenheiros e pesquisadores que constroem a infra-estrutura da rede fiquem atentos aos possíveis benefícios e ameaças que ela pode representar. O que temos de oferecer é uma infra-estrutura que garanta a existência de uma sociedade justa, aberta e democrática. Agora o senhor se dedica a divulgar a web semântica. O que é isso?BERNERS-LEE: Hoje, programas como editores de texto, planilhas e calendários captam e formatam a informação de uma maneira específica. Por isso, os dados ficam confinados a esses programas. A web semântica traz tecnologias que permitem o cruzamento dessas informações com facilidade, independentemente do tipo de programa em que elas estejam guardadas. Um exemplo: vamos supor que um cientista esteja trabalhando no desenvolvimento de uma nova droga. Ele sabe que efeitos a substância provoca no corpo. Outro entende por que isso acontece. Muitos outros técnicos podem ter informações sobre o que ocorreu no passado, quando se tentou usar esse mesmo medicamento. Mas nenhum deles, e principalmente nenhum programa ou aplicação, é capaz de reunir e cruzar todas essas informações. A web semântica pode conectá-los e reunir esses dados. No mundo da medicina, já estamos fazendo algumas experiências com a web semântica, reunindo um vasto volume de informações. E muitos programas poderão surgir para aproveitar esse tipo de base de dados, não só serviços de busca ou navegadores.

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