- O sr. distingue três dimensões do reconhecimento: "amor", "direito" e "solidariedade". Elas possibilitam aos sujeitos, respectivamente, a autoconfiança, o auto-respeito e a auto-estima. A relação entre essas dimensões seria de subordinação ou de coordenação? Poderia haver um conflito entre a esfera do direito e a da solidariedade, ligada aos valores de uma determinada sociedade?Honneth - A questão aborda dois problemas diferentes, que vou tentar responder em separado. Primeiro a questão de qual espécie de ordem genética ou lexical existe entre as distintas esferas de reconhecimento. Existe, a meu ver, uma primazia genética da primeira forma de relação de reconhecimento, isto é, da autoconfiança possibilitada pelo amor e pela assistência. Sem a experiência dessa forma de reconhecimento, nenhum sujeito poderia constituir uma identidade estável e uma personalidade intacta. No entanto, outra coisa se passa com a ordem "lexical". Eu afirmaria, pelo menos para as sociedades modernas, uma primazia da relação jurídica de reconhecimento. Ela, a princípio, exorta todos os sujeitos, de maneira igual, ao respeito mútuo e, por isso, possui a maior força de inclusão.Sobre o segundo aspecto da questão, pode-se dizer que tanto da perspectiva do sujeito quanto da perspectiva da sociedade, são possíveis conflitos entre as exigências morais das diversas relações de reconhecimento. Eles só podem ser solucionados privilegiando-se as relações jurídicas. - O sr. teve uma discussão com a filósofa americana Nancy Fraser. Para ela, é preciso complementar o conceito de reconhecimento com o de redistribuição, proposta que o sr. rejeitou porque as questões de justiça distributiva seriam tratadas melhor no quadro da Teoria do Reconhecimento. Qual é o seu balanço a respeito?Honneth - Nas questões normativas concordamos em mais coisas do que era claro de início. Nós dois entendemos que o objetivo da justiça social é possibilitar uma participação de todos os membros da sociedade no processo comunicativo da vida da sociedade. Contudo cada um de nós soletra essas condições de maneira diversa. Eu, com os conceitos de uma teoria do reconhecimento; Nancy Fraser, com uma teoria da participação. Em relação à questão central, redistribuição ou reconhecimento, a diferença consiste em que eu vejo somente a possibilidade de justificar as finalidades da redistribuição com as categorias do reconhecimento social. - Como o sr. avalia o estado atual dos estudos sobre Adorno?
Honneth - No começo do Congresso Internacional Adorno deste ano, eu havia chamado a atenção para aquilo em que residia a diferença essencial na recepção de Adorno entre 1983 e 2003. A conferência de 20 anos atrás se apoiava em uma discussão viva sobre Adorno, que no entanto não recebeu nenhum suporte por parte da elite política. Neste ano aconteceu o contrário. Quase não existe mais uma discussão viva, fecunda também em termos acadêmicos, com a obra de Adorno. Por outro lado, sua pessoa foi eleita praticamente como o superego moral da nação por parte da esfera pública política e midiática. Nesse sentido eu tive de fazer a difícil tentativa de realçar, justamente em tempos de indiferença acadêmica, o potencial teórico da obra de Adorno.- Quais as linhas de pesquisa que estão sendo desenvolvidas no Instituto de Pesquisa Social?Honneth - Tenho seguido o programa de uma ampliação interdisciplinar das perspectivas de pesquisa. Investigamos os processos de transformação que eu gostaria de compreender como "paradoxos da modernização capitalista", incluindo a psicanálise, a sociologia do direito e a história econômica.
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