sexta-feira, 1 de maio de 2009

Yochai Benkler

- Aonde o modo de produção emergente que o sr. descreve em seu livro nos levará? A uma sociedade sem líderes? YOCHAI BENKLER - Depende do que você quer dizer por "uma sociedade sem líderes". Se for uma sociedade em que ninguém tem de trabalhar para viver e todo o mundo só age por meio de cooperativas voluntárias, a resposta é não. As pessoas continuarão a ter de colocar comida na mesa e a ter um teto para viver. O que podemos desejar é uma sociedade em que trabalho e consumo não estejam regulamentados e controlados tão rigidamente como no período industrial. Produzir informação, conhecimento e cultura fará de nós ao mesmo tempo indivíduos e grupos mais autônomos, mais livres e independentes do tipo de Estado e de corporações hierarquizadas que definiram aquele período.- Para alguns analistas, essa sociedade lembra os sonhos da contracultura dos anos 60, só que baseados em tecnologia, e não drogas. Concorda? BENKLER - A contracultura lutou contra as condições tecnológico-econômicas de então. Por isso era um sonho, e por isso tendia a ser baseada nas drogas. O que vemos agora é o inverso. Um choque tecnológico alterou os fundamentos econômicos de produção. As partes que estão agora em conflito e lutando contra as mudanças são os gigantes industriais do final do século 20. O sistema que forma a produção compartilhada é convertido em bens econômicos reais. - Como controlar o fluxo e a qualidade da produção num modelo assim? Estou pensando na Wikipedia. Há muita informação útil ali, mas muitos erros também, que as pessoas aceitam como verdade só porque estão escritos lá. BENKLER - É uma questão grave e importante, para a qual já começa a surgir solução. Primeiro, a "qualidade" no ambiente de comunicação de massa está longe de ser perfeita, e, quando é muito boa, vem de instituições que não estão totalmente integradas no mercado, como universidades ou editoras sem fins lucrativos. Segundo, e mais importante, qualidade, credibilidade e relevância são bens de informação. E nós estamos começando a ver novas plataformas técnicas e sociais que permitem que empresas de propriedade compartilhada melhorem sua qualidade com o passar do tempo. Na Wikipedia, isso ocorre pela revisão comum e pela rápida modificação de suas páginas uma vez constatado o erro. Por fim, leitores e telespectadores aprenderam a ser mais céticos e questionarem mais. As pessoas estão desenvolvendo a prática cultural de pesquisar, mais do que aceitar. É muito parecido com o que os jornalistas e os acadêmicos fazem, ouvir outras fontes em vez de aceitar como verdade o que ouviram de apenas uma. - O que o sr. quer dizer
quando se refere em seu livro a "incentivos não-monetários"? BENKLER - Todas as razões que nos levam a agir além de preço. Pense no motivo pelo qual jogamos um jogo: é divertido; as pessoas com quem estamos jogando são nossas amigas; faz com que nos sintamos parte da comunidade. Nós podemos ajudar um projeto de nossa comunidade porque nós achamos que é o certo a fazer. As pessoas têm razões psicológicas e sociais variadas para agir. Toda vez que você toma café com amigos ou pára para ajudar alguém que está perdido na rua você está agindo por motivações não-monetárias. Se o custo de fazer algo é suficientemente baixo -como é o custo de participar na produção de informações que estão na Internet-, então não é preciso um alto grau de motivação. E, como a rede conecta tanta gente em tantos lugares e ao mesmo tempo, tudo o que é preciso para que a sociedade de produção compartilhada seja sustentável é que centenas de milhões de pessoas conectadas, que podem dispor de cinco minutos ou duas horas ou uma semana para se dedicar a um projeto, se dediquem a esse projeto, que vai se tornar um conhecimento criado coletivamente.- E como fica a questão da propriedade intelectual? BENKLER - Os modelos econômicos do final do século 20 se tornaram obcecados pela idéia de que, já que estamos nos mudando para uma sociedade informativa, a "nova propriedade" era a propriedade intelectual e sem ela não haveria modelos econômicos. Pegue os direitos autorais como exemplo. Jornais e revistas não são realmente baseados em direitos autorais. Eles oferecem notícias quentes e de durabilidade limitada em troca de atenção, que é vendida para os anunciantes. Da mesma maneira, a indústria do software. Cerca de dois terços do faturamento vêm de serviços, e não dos programas vendidos.

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