sexta-feira, 1 de maio de 2009

Wole Soyinka

Quais são, na sua opinião, os factores mais importantes no diálogo intercultural?"O diálogo intercultural é um fenómeno humano. O que está em causa é a forma de pôr em prática e de melhorar esse diálogo. Espero que a comunidade internacional já tenha percebido que a hierarquia de culturas não existe. O reconhecimento das culturas desconhecidas ou estranhas avançou muito e há um conhecimento cada vez melhor dos fenómenos culturais. Isso significa que é necessário desenvolver e melhorar os mecanismos de troca cultural". O seu trabalho está muito ligado a alguns temas políticos em África, como a corrupção e o abuso de poder. Qual é, no seu entender, o papel dos escritores na sociedade?"Voltamos à questão da interacção cultural e é evidente que cada cultura tem as suas prioridades. De certa maneira, a política encontra sempre uma forma de ocupar o seu próprio espaço nos programas culturais. As pessoas continuam a questionar-se sobre o papel do indivíduo na comunidade. Acredito que a cultura, seja sob a forma de literatura, poesia, prosa, romance, em África ou na Rússia, possa estar sempre impregnada de elementos socio-políticos. É como a água: encontra sempre o seu nível".
O que significam, para si, os mecanismos de troca entre culturas?"Vou dar um exemplo concreto: o British Council e a Alliance Française enviam esporadicamente grupos de teatro a África, designadamente à Nigéria, para actuações e debates. Em seguida, os grupos nigerianos podem viajar para o estrangeiro e dar a conhecer ao público novos idiomas teatrais. Basta participar numa destas acções para constatar a forma enriquecedora como as pessoas abrem os seus horizontes. Um outro exemplo é o fenómeno da internacionalização dos festivais locais. Na minha Universidade organizamos um festival denominado "Máscaras, Mascaradas e Marionetas". Foi uma oportunidade de introduzir os nigerianos às tradições de máscaras do resto do mundo. Convidámos o Japão, a China e os países escandinavos. Muitos nigerianos não sabiam que existe uma tradição de máscaras nesses países e pensavam que era uma tradição exclusivamente africana. Foi duplamente útil para os nigerianos porque, como sabemos, o fundamentalismo religioso está a limitar a compreensão entre culturas e os horizontes das pessoas. Muitos cristãos e muçulmanos nigerianos, incluindo os próprios estudantes, ainda acreditam que as máscaras são um sinal de feiticismo, de paganismo e de barbárie". Como se sente por participar na semana africana do Parlamento Europeu?"Como é que me sinto? Em casa! Enquanto a Nigéria esteve em crise, eu costumava visitar e conversar com os deputados ao Parlamento Europeu. Agora que as coisas parecem ter estabilizado, entendi o convite como uma forma de regressar aqui e agradecer o apoio do Parlamento Europeu durante a última ditadura na Nigéria. Geralmente sou convidado em momentos de crise na Nigéria e espero nunca mais ter que voltar nessas circunstâncias. Mas estou muito feliz por estar aqui novamente".

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