sexta-feira, 1 de maio de 2009

Elfriede Jelinek

http://www.elfriedejelinek.com/
Gosto pelo experimento -Admiro-me ainda mais do prêmio, pois na verdade sou uma autora da província, que trabalha com uma determinada linguagem que já não dá para entender na Alemanha", aponta Jelinek sua singularidade, em entrevista ao Frankfurter Allgemeine Zeitung. Filiando-se à tradição do Grupo de Viena, propagador de uma literatura centrada no experimento lúdico com a linguagem e a sonoridade das palavras, ela considera sua obra difícil de ser traduzida: "Escrevo a partir desta tradição e tenho a sensação de que escrevo no vazio".Riso para poucos ― A estranheza de seu estilo não se limita a outros idiomas. Para Jelinek, o humor e o sarcasmo de seus livros não chegaram a ser entendidos nem pelos alemães: "Isso não tem repercussão na Alemanha; as pessoas raramente riem das minhas coisas. Há alguns anos, uma resenha constatava: 'Talvez a gente sempre tenha lido esta escritora de forma equivocada, talvez ela esteja querendo ser engraçada'. De fato, é simplesmente inacreditável".
Fúria contra a Áustria ― Se a obra de Jelinek se nutre, por um lado, da especificidade da tradição austríaca, o que a move é justamente sua "fúria contra a Áustria". Isso também dificulta a compreensão de sua obra por leitores alheios aos dilemas da sociedade austríaca. Por outro lado, por mais que a Alemanha não entenda seu sarcasmo, é lá que suas críticas ao conservadorismo austríaco têm maiores chances de ser entendidas.
Pela memória histórica -"A Alemanha tem uma espécie de história, pelo menos a antiga Alemanha Ocidental. Os aliados ficaram lá muito mais tempo do que na Áustria e assim puderam cumprir sua missão de reeducar.
Nós demoramos para sair da escola primária política. A nós eles deram tudo de mão beijada e, em compensação, saímos festejando o acordo estatal por toda a parte; quem não quiser participar da festa é traidor da pátria", reclama Jelinek.Por uma opinião pública ― "Na Alemanha Ocidental, há uma imprensa diversificada com debates incrivelmente interessantes. A Áustria tem o Kronenzeitung, que não é jornal, coisa nenhuma, mas é lido pela metade da população alfabetizada. Na Alemanha, há filósofos políticos que interferem no debate público. Nós mal temos cabeças teóricas. É por isso que os artistas têm que assumir esta função", assinala a escritora.Contra a falocracia ― Seja pela incompreensão do humor ou de sua excessiva corrosividade crítica, Jelinek costuma ser estigmatizada na Alemanha como feminista ferina e adversária radical dos homens.
A escritora não deixa margem de dúvida quanto à sua causa e explica a possível origem do radicalismo: "Quando as mulheres são cúmplices totais dos homens, deixo de me identificar com elas como mulher. (...) Quanto menos os homens se propõem a dividir seu poder exteriormente, mais as mulheres direcionam seu sofrimento para dentro. O poder feminino introvertido é opressor. Quando as mulheres são expulsas do espaço público, talvez por medo, naturalmente elas retornam como monstros, fantasmas. O que foi reprimido retorna como coisa assustadora, mais terrível ainda".Linguagem guia -Para Jelinek, a condição da mulher escritora se reflete numa linguagem fora do controle, em contraposição ao discurso masculino, norteado pelo autocontrole e resguardado numa posição segura: "O que escrevo não é uma linguagem normal, (...) é uma composição lingüística. Para que as coisas continuem, de algum lugar vem uma frase que eu possa utilizar, e então esta frase me empurra adiante, e assim as coisas prosseguem. Costumo dizer que a linguagem é um cão que vai arrastando a gente pela coleira, e à gente só resta acompanhar".

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