Principalmente no âmbito atraente das altas finanças, na mídia, na indústria de criatividade e high tech, a fidelidade à empresa e aos funcionários perdeu o valor. Isso, contudo, modifica fundamentalmente o cotidiano das pessoas.
"Quando se vive numa organização que funciona como uma porta giratória – com pessoas entrando e saindo incessantemente – fica difícil criar um vínculo com o lugar. As relações com outras pessoas, que se encontram na mesma situação, não se aprofundam, pois o período de convivência diminui. As pessoas não criam uma base de confiança entre si e o resultado disso é uma solidariedade cada vez menor. Aí está, por exemplo, a grande dificuldade de integrar pequenos e médios funcionários da new economy em sindicatos. Eles simplesmente não compreendem o que é isso", analisa Sennett.Para o sociólogo, outro problema crucial é a forma como é hoje feita a seleção de profissionais para um cargo e sob qual tipo de liderança eles são obrigados a funcionar. Quando há 20 candidatos a uma determinada vaga, por exemplo, só é aceito aquele especialmente talentoso, o mais extraordinário de todos. Dos outros 19 nem se toma conhecimento. Essa perversão da sociedade voltada apenas para o desempenho leva, segundo Sennett, a uma humilhação e a uma degradação dos outros 19 candidatos, que não recebem nem mesmo um voto de confiança de que podem executar um bom trabalho."Isso não signfica, porém, que você [estando entre os 19 restantes] seja ruim, mas simplesmente que ninguém percebe a sua existência, não tem interesse por você. E é exatamente isso que os empregadores fazem: eles estão interessados apenas em achar uma pessoa entre 20. Essa é uma situação extraordinariamente deprimente para os que ficam de fora. E rouba também energia das pessoas que têm autoconfiança. Como já disse, isso não é apenas um fenômeno que ocorre no ambiente de trabalho, mas corresponde também à forma como organizamos hoje nosso sistema de formação profissional. Isso ocorre no Reino Unido, nos EUA – espero que na Alemanha não – mas com certeza também na França", critica Sennett.E isso não é tudo. Para compreender a falta de energia dos trabalhadores na atual crise financeira, basta, segundo o sociólogo, dar uma olhada na elite do conselhos de administração e da cúpula das empresas. Na maioria dos casos, todas essas pessoas se conhecem muito bem entre si."Ao fracassar numa empresa, você sai pela porta e entra a seguir em outra, ocupando a mesma posição, talvez até mesmo com melhores salários. Não há nenhum tipo de responsabilidade na esfera do alto executivo. Essas pessoas não são chamadas à responsabilidade. O problema é que os funcionários nos escalões inferiores sabem que quando as coisas dão errado, os chefões lá de cima não precisam prestar contas", completa Sennett.Isso, para o sociólogo, leva a uma dissociação entre poder e autoridade. Quanto mais poder uma pessoa tiver, mais facilmente ela consegue escapar; quanto menos poder um funcionário tiver e mais baixa for sua posição na hierarquia da empresa, mais dependente e inflexível é sua situação. Estes, no entanto, acabam sofrendo com os erros dos executivos.
"O que aconteceu nos últimos 30 anos é que se construiu um sistema muito precário. A arquitetura, a infra-estrutura e a estrutura institucional são pouco engenhosas. Como todos os anglo-saxões, espero que, primeiramente na Alemanha, se torne possível chamar as pessoas à responsabilidade por sua incompetência. Isso possibilitará uma mudança social fundamental no sistema", completa Sennett.Por fim, o sociólogo norte-americano ainda deu alguns conselhos aos sindicatos, durante sua visita a Berlim. Eles deveriam iniciar reformas imediatamente e optar, no futuro, por uma organização que se oriente menos por setores e profissões e mais pelos lugares onde as pessoas vivem e trabalham. Assim, acredita Sennett, talvez seja possível haver de novo mais solidariedade em prol de interesses comuns.
"O que aconteceu nos últimos 30 anos é que se construiu um sistema muito precário. A arquitetura, a infra-estrutura e a estrutura institucional são pouco engenhosas. Como todos os anglo-saxões, espero que, primeiramente na Alemanha, se torne possível chamar as pessoas à responsabilidade por sua incompetência. Isso possibilitará uma mudança social fundamental no sistema", completa Sennett.Por fim, o sociólogo norte-americano ainda deu alguns conselhos aos sindicatos, durante sua visita a Berlim. Eles deveriam iniciar reformas imediatamente e optar, no futuro, por uma organização que se oriente menos por setores e profissões e mais pelos lugares onde as pessoas vivem e trabalham. Assim, acredita Sennett, talvez seja possível haver de novo mais solidariedade em prol de interesses comuns.
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