sexta-feira, 1 de maio de 2009

Lynn Margulis

http://www.geo.umass.edu/faculty/margulis/Lynn Margulis :"o homo sapiens não é sabio por causa do nome que ele próprio se deu""minha rejeição da tolice judeu-cristâ é completa-sei menos sobre o islã,mas vejo que o corão advoga a morte do infiel.a passividade do budismo lembra-me uma resignação estagnada.eu confesso minhas próprias crenças:todas as religiôes são falsidades institucionalizadas,confusão compartilhada e tribalismo selvagem e ridículo"...(totalmente de acordo...)
A sra. esteve no Brasil na década de 70 como consultora de educação científica, certo?Eu estive no Brasil por três semanas, em São Paulo, paratrabalhar com Isaias Raw, que na época tinha deixado auniversidade para produzir material e equipamento deeducação científica. Eu estava lá quando ele foi detido na frente de sua família, sabe-se lá por que razão estúpida. A universidade estava fechada. Se havia três pessoas conversando, isso era considerado um ato político. Era amedrontador, na verdade. Eu não falo com Raw há anos, mas ele é uma pessoa maravilhosa. Avise-o, se você puder, que estarei lançando dentro de duas semanas um material educacional para crianças. Ele se interessava muito sobre o tema. Sobre o que é esse material?Na verdade esse material é para professores. O projeto sechama"Living Sands: Mapping Time and Space with Forams" (AreiasVivas: Mapeando Tempo e Espaço com Foraminíferos). Você sabe, fora miníferos são protozoários marinhos, com 16 mil espécies, a maioria extinta. Suas carapaças calcárias fazem parte de sedimentos marinhos e servem para determinar a época de surgimento de rochas sedimentares. São unidades de estudo,com vídeo, proposta de atividades escolares, modelos desses organismos. Trabalhei nesse projeto por cerca de 11 anos.Por que tanto tempo?Isso porque levávamos esse material para as aulas, para os professores. Eles experimentavam, falavam o que tinha de errado,consertávamos. Tem de ser assim para funcionar. Chamamos isso de ciência com as mãos na massa. Queremos que o ensino de ciência seja ativo.O seu trabalho de divulgação científica é bastante consistente.Meu principal interesse é fornecer informação para professores de escola. Eu acredito que é tempo perdido tentar trazer ciência paratodas as pessoas, pois, pelo menos aqui (nos EUA), a cultura é anti intelectualizada e anti científica. As pessoas não sabem nem contra o quê elas são contra. Elas acham que ciência é tecnologia para fabricar melhores televisores. Mas os professores de ciência são os meus favoritos. Eles precisam trabalhar tão duro para mostrar aos alunos a importância da ciência. Por isso, eu e meus estudantes procuramos direcionar todo o material que produzimos para aqueles que estão interessados em educação científica.Esse é o caso de seu livro "O Planeta Simbiótico"?Esse foi um livro que nosso agente para ciência popular me pediu.Ele disse que queria um livro que os homens de negócios japoneses pudessem ler no trem, indo para o trabalho, em uma semana. Eu não considero esse um livro sério. Muitas pessoas sim, pois elas não têm tempo, interesse ou conhecimento para ler,por exemplo, "Cinco Reinos".
E como fica a questão da divisão da vida na Terra em cinco reinos frente à proposta de Carl Woese (da Universidade de Illinois) de uma divisão em três domínios, com base na análise de sequências nucleotídicas (as letras A, C, G e T,que compõem o código da vida) de certos genes?O livro (referindo-se a "Cinco Reinos") é completamente consistente em termos de classificação. E isso significa que o reino Archaebacteria de Woese não é um reino, mas sim um sub-reinodo reino Bacteria. As pessoas que defendem o sistema de três reinos pegam um deles (Bacteria) e o dividem em dois grupos(Archaebacteria e Eubacteria). E isso é totalmente injustificável,pelas evidências que temos. Woese ignora completamente a simbiose como fator de origem das espécies. Organismos que pelo sistema de Woese estão em domínios diferentes trocam genes entre si. Na sistemática, um único tipo de evidência não é suficiente. São necessários também dados morfológicos,ecológicos e de desenvolvimento. A sra. desenvolveu uma teoria que, apesar de bastante controversa quando proposta inicialmente, hoje é francamente aceita: a da origem bacteriana de mitocôndrias (organelas responsáveis pelaprodução de energia nas células) e cloroplastos (organelasem que acontece a fotossíntese). No entanto, essa teoria é mais ampla. Diz respeito ao surgimento da célula eucariota por meio da simbiose de vários microrganismos. Ainda falta descobrir se proteínas envolvidas na mobilidade da célula podem ter surgido a partir da simbiose para validá-la por completo. Alguns cientistas duvidam que a sra. consiga completá-la. Como vai essa pesquisa?Ainda vai levar um tempo, mas completaremos esse trabalho.Vamos vencer essa. Eu sempre sei mais do que as outras pessoas,as que nos criticam. Estamos fazendo experimentos deco-cultivo(cultivar mais de um organismo num mesmo meio de cultura)com termoplasmas -bactérias que crescem em condições muito quentes e ácidas- e espiroquetas -bactérias com formato parecido ao de um saca-rolha, capazes de se mover pela flexão da célula.A idéia é mostrar que esses dois organismos podem viver de maneira associada. Sua teoria afirma também que novas espécies surgem a partir da simbiose de velhas espécies.Certo. Estou trabalhando num livro, que devo terminar até o final de agosto e se chamará "Origins of Species: Inheritance ofAcquired Genomes" ("Origem das Espécies: Herança de Genomas Adquiridos"). Eu o vejo indo além das teorias evolutivas de Darwin e Lamarck. Até que ponto o sequenciamento do genoma de vários organismos pode fortalecer sua teoria?Muito, definitivamente. Existem dois microrganismos-Borrelia eTreponema, ambas bactérias espiroquetas- que têm muito pouco em comum, a não ser a capacidade de mobilidade. Estamos procurando o que elas têm em comum com os genes envolvidos na mitose e na mobilidade intracelular em eucariotos. Genes de proteínas envolvidas em sensibilidade mecânica, mitose,cílios etc.Queremos ver o que elas têm em comum com as proteínas de mobilidade de espiroquetas. Esse é o projeto para o qual estamos esperando financiamento. Já sabemos que ganhamos. Essa é a nossa previsão: que as proteínas envolvidas na mobilidade dos eucariotos são mais semelhantes às das espiroquetas do queàs de Escherichia coli ou cianobactérias, ou qualquer outra bactéria escolhida arbitrariamente.Quais são as evidências que a levam a prever isso?De fato, o único trabalho que existe é um que mostra que a enolase (enzima envolvida no metabolismo de açúcares) em Euglena (prototista que se move com o auxílio de um flagelo)tem maior homologia com a de Treponema. Mas eu não quero pensarem termos de uma proteína, existem 5.000 proteínas. Eu quero o maior número possível de informações válidas. Até o momento,a maioria da informação molecular não é útil. Quero dizer, não existe agora informação molecular que seja definitiva.Ou seja, voltamos à questão da validade de usar apenas dados moleculares para classificar organismos?No século 19, os cientistas discutiam qual a validade da filogenia parcial, de usar uma única característica para classificar organismos. E com certeza essa não é a prática correta. Acerta éusar o máximo de características que você puder. E é por isso que um gene, uma proteína, o RNA 16S (fazendo referência ao trabalho de Woese), nada disso por si só é válido. Só éválido se você tiver o maior número de dados possíveis.Outra polêmica que envolve a sra., além da classificação dos organismos, é a que diz respeito à teoria de Gaia. Porque a sra. discorda do uso que os grupos ambientalistas fazem dela?Eu discordo de que a Terra seja vista como um único organismo.Somente disso. E por quê? Porque nenhum único organismo se alimenta do seu próprio lixo. Não se pode fazer isso. Em outras palavras, a Terra é uma série de ecossistemas, não um único organismo. As pessoas das ONGs pegaram a idéia de Gaia sem realmente compreendê-la. Gaia é uma idéia muito fácil de ser compreendida por cientistas: o ecossistema da Terra como propriedade fisiológica, o que significa que ele regula temperatura,composição gasosa, pH etc. Isso significa que a Terra tempropriedades fisiológicas que não existiriam se o planeta fosse só mais um monte de pedras entre Vênus e Marte. Se você entende que a Terra tem uma fisiologia, o ambiente não é a floresta tropical brasileira, ambiente é o espaço que envolve o planeta. Afloresta tropical brasileira é parte do sistema e por isso tem função simbiótica e fisiológica. Cortar a floresta é como cortar as mão sou os pés de alguém.Mas a sra. acha então que a preocupação com o ambiente é inútil?Bem, sim, eu pessoalmente acho que é inútil. Porque o que as pessoas irão fazer é se reproduzir, se reproduzir e se reproduzir. E aí elas destroem terras para construir casas e carros par aos seus filhos. Mas o ambiente e o sistema de Gaia continuarão. Só que sem as pessoas.

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