sexta-feira, 1 de maio de 2009

Joseph Stiglitz

A crise financeira agrava-se quotidianamente. Porque é que os investidores não conseguem reganhar confiança?Não é uma surpresa que as coisas não melhorem. Os remédios apresentados até agora só resolvem uma parte do problema. Em particular, o plano inicial norte-americano de 700 mil milhões de dólares [517 mil milhões de euros] consiste em comprar as más dívidas dos bancos. Mas, ao comprar títulos que não valem quase nada, o Estado vai transformar perdas antecipadas em perdas reais. Os bancos têm um buraco nas suas contas por causa destas más dívidas. É preciso tapá-lo. Nisto, o plano britânico que consiste em injectar capital nos bancos é uma melhor opção. Mas não há apenas este problema.O que quer dizer?A raiz do problema é a queda do mercado imobiliário. No Estados Unidos, espera-se ainda dois milhões de penhoras imobiliárias, porque os proprietários são incapazes de reembolsar os seus créditos hipotecários. Enquanto este movimento não tiver parado, as dívidas vão continuar a provocar perdas nas contas dos bancos. Henry Paulson [Secretário do Tesouro dos Estados Unidos] pensa que o declínio do imobiliário vai parar, mas nenhum economista sério acredita nisso. O seu plano consiste em fazer uma transfusão sanguínea para um doente que sofre de uma hemorragia interna.Por fim, as economias entram em recessão. Para travar esta situação, são preciso estímulos à economia. Nos Estados Unidos, o subsídio de desemprego cobre vinte e seis semanas, depois fica-se sem nada. A crise vai durar muito mais que vinte e seis semanas. São necessárias medidas de maior protecção sob pena de a situação se tornar muito pior.
Na Europa, que soluções seriam, para si, eficazes?É necessária uma solução comum para todos os países da Europa. Cada país não pode agir como se a crise só lhe tocasse a ele. A Europa conseguiu criar um sistema financeiro único. É preciso extrair daí as consequências. Para resolver a crise na Europa, são necessárias soluções europeias. Propor um garantia dos depósitos num país e não noutro, por exemplo, apenas distorce a concorrência entre bancos: é muito fácil mudar de estabelecimento na União.No imediato, é preciso autorizar défices superiores a 3% do PIB. Os estatutos do Banco Central Europeu, que está focalizado na inflação e não no crescimento, são também um problema.Assiste-se a um movimento de desconfiança face aos bancos. Pensa que essa situação vai durar?Os banqueiros têm-se comportado muito mal. Porque haveria de se ter confiança? Eles não sabem gerir os riscos, mesmo quando sabem dar às suas contas um aspecto correcto. E isto não é novo, tivemos já muitas crises bancárias. É preciso rever toda a maneira de regular o sistema. Há um buraco no barco e é urgente repará-lo, como disse Ben Bernanke [presidente da Reserva Federal, o banco central dos EUA]. Mas é preciso também mudar de capitão. Este barco está a ser guiado por um alcoólico, que nos conduz directamente contra os rochedos. Esta crise é frequentemente comparada com a de 1929. Teme consequências tão dramáticas?Evoca-se 1929, porque se pensa na falência de Wall Street e quer-se evitar grandes perdas dos bancos. Devia-se antes comparar esta crise com a da Indonésia. Há dez anos, a crise financeira da Indonésia transformou-se numa grande depressão: em Java, o desemprego atingiu os 40%. Sabe-se o que não deve ser feito e como travar a queda. A questão está em saber se isso será feito e se será feito correctamente.

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