sexta-feira, 1 de maio de 2009

Hannah Arendt

Em 14 de outubro de 1906, nascia em Hannover a grande filósofa alemã. A partir da condição de judia e sobrevivente do Holocausto, ela reflete sobre a banalidade do mal e a necessidade de ousar e se expor na vida pública.Hannah Arendt foi uma das maiores pensadoras do século 20. Suas argutas análises políticas lhe valeram distinções como o Prêmio Lessing de 1959 ou o Sonning de 1975, conferido pela Universidade de Copenhague por mérito em prol da cultura européia.Ela nasceu em Hannover em 14 de outubro de 1906 e foi estudar filosofia em Marburg, onde foi aluna de Martin Heidegger. Em breve, a estudante de talento extraordinário e o filósofo de fama mundial iniciaram um caso de amor.Seu romance com Heidegger fez manchetes e até hoje fornece material para estudos biográficos. Os dois contam como um dos mais famosos casais de intelectuais, ao lado de Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir.Porém o mestre era casado, fato que fez a jovem decidir se mudar para Heidelberg, onde completou seu doutorado em 1928, sob a assistência da Karl Jaspers. Entretanto, a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha alterou radicalmente a vida da filósofa de origem judaica."Na época repetia sem cessar uma frase que evoco agora: 'Se você é atacado como judeu, é preciso se defender como judeu'. Não como alemão, ou cidadão do mundo ou em nome dos direitos humanos, ou algo assim. Mas sim, bem concretamente: o que eu posso fazer?", declarou durante uma entrevista à televisão, em outubro de 1964.Quando Martin Heidegger se tornou o primeiro reitor nacional-socialista da Universidade de Freiburg, Hannah Arendt se afastou da filosofia para engajar-se na resistência antinazista. Em meados de 1933, foi presa pela Gestapo, porém conseguiu escapar.
Pouco mais tarde, Arendt fugiu para Paris. Lá conheceu seu futuro marido, o também filósofo Heinrich Blücher, com quem emigraria para os Estados Unidos em 1941. Em Nova York, inicia-se sua verdadeira carreira: ela escreve para revistas, trabalha como revisora, professora universitária e em diversas organizações judaicas.Em 1951, publicou seu revolucionário estudo Origens do totalitarismo. Seguem-se outros escritos, entre os quais Vita activa, uma teoria da atividade política. Em Sobre a revolução, ela examina as reviravoltas políticas radicais.Certa vez, Arendt classificou sua profissão como "teoria política, se é que se pode falar em profissão". Seus livros a colocaram na capa de revistas importantes, aclamada como uma das grandes filósofas do século.Em 1963, publicou Eichmann em Jerusalém, sobre o processo contra o criminoso nazista. Aqui Hannah Arendt cunha a famosa expressão "a banalidade do mal". O livro desencadeou uma longa e acirrada controvérsia.Entre outros argumentos, a filósofa foi acusada de, com sua teoria da banalidade, minimizar os crimes dos nazistas e o sofrimento dos judeus. Em resposta, Arendt disse, de certa maneira, compreender a reação indignada ao fato de ela ainda poder rir."Mas eu realmente achava que Eichmann era um palhaço. Li, e com muita atenção, seu interrogatório policial, 3.600 páginas. E não sei quantas vezes tive que rir, mas com vontade! As pessoas levam a mal essa minha reação."
O tema não a deixou mais em paz. Em 1965, fez uma palestra intitulada Sobre o mal, somente publicada em 2006, ano de seu centenário. O tema é o mal, diante do qual as palavras falham e o raciocínio fracassa.Segundo Arendt, a origem dessa forma do mal está na própria recusa de pensar e julgar. Desta, resulta uma incapacidade de – na qualidade de agressor potencial – se ver no papel da vítima. Assim, Adolf Eichmann jamais levou em conta o destino dos judeus, cujo transporte e morte nos campos de extermínio ele organizara.Da mesma forma, os terroristas suicidas não pensam nas vítimas de seus atos. Deste ponto de vista, se poderia ler hoje em dia a palestra de Arendt e seu livro sobre Eichmann como uma contribuição para o debate sobre as causas do terrorismo mundial.Hannah Arendt faleceu em 4 de dezembro de 1975. A partir de sua própria experiência como judia, durante toda a vida ela interferiu, se imiscuiu, sabendo que a irreflexão moral e política é o maior perigo. Por isso ela sempre procurou a "ousadia da exposição pública". A filósofa explica:"Trata-se de se expor à luz pública, precisamente como pessoa. A segunda ousadia é: estamos iniciando algo, entrelaçamos nosso fio na rede das relações. No que isso resultará, não sabemos jamais. E concluindo, eu diria que essa ousadia só é possível com confiança nos seres humanos."

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