A literatura pode fomentar a paz?Não sejamos pretensiosos. Temos a possibilidade de provocar mudanças duradouras nas consciências das pessoas. Gosto de tomar como exemplo o processo do Iluminismo na Europa: não foram apenas os autores iluministas, quer Voltaire, quer Diderot, a se tornar imediatamente alvos da censura. Seus livros só se impuseram após uma longa pausa: em países e regiões diversas e de formas também bem distintas. Em certas regiões da Europa, o Iluminismo não chegou até hoje. É um processo muito lento, que provoca mudanças, porém tendo como meta melhorar as coisas. Sou muito desconfiado: no mais das vezes são ideólogos, que aparecem dizendo "no fim há uma meta final", o homem apaziguado, o homem socialista, o american way of life, portanto uma felicidade através do consumo. Considero tudo isso uma dissimulação ideológica, em que não quero me apoiar.Em sua opinião, os escritores preenchem sua missão no mundo?Não posso afirmar algo assim de maneira global. Acho fantástico existir algo como o PEN, que haja também um cuidado mútuo, como o programa Writers in Prison. Só isso já prova a necessidade do PEN Club. Está aumentando o número dos autores perseguidos, dos autores detidos, dos autores assassinados. E sabemos que as tentativas do PEN – muitas vezes em conjunção com a Anistia Internacional – de libertar, aliviar a prisão, possibilitar a viagem, têm êxito. Também a criação de programas, como o do PEN Club alemão, para oferecer abrigo a escritores perseguidos em seus países natais, dando-lhes uma espécie de bolsa, de forma a que firmem pé por aqui. Isso são atos de solidariedade – uma palavra antiquada, eu sei, mas que continua preenchendo sua finalidade. Creio que essa solidariedade entre escritores continua tendo efeito.
E quanto aos autores árabes ou islâmicos?Sim, isso também se aplica a eles, naturalmente. Ano passado estive duas vezes no Iêmen, encontrei-me lá com autores árabes, e então constatei que os problemas enfrentados hoje nos países árabes são problemas que os autores da Europa tiveram no século 19 ou 18. Por exemplo, a reivindicação de uma separação entre Igreja e Estado, inexistente até hoje nos países árabes. Na Europa isso quase já está estabelecido, embora também aqui haja países onde ou está ocorrendo um retrocesso ou a separação ainda não se concluiu. Percebi quanto tempo esses processos exigem. E, no entanto, a exigência de que se separe Igreja e Estado será necessária, naturalmente também nos países árabes – e essa é uma tarefa para os escritores, entre outros.A Alemanha é a anfitriã, autores do mundo inteiro a visitam. Em breve será "O mundo entre amigos". Mas aqui há numerosos imigrantes, dentre eles escritores, extremamente preocupados com o recrudescimento do radicalismo de direita na Alemanha.Do ponto de vista político, a direita radical da Alemanha está isolada. Há outros países – tome-se a França, com Le Pen –, onde a extrema direita está no poder, especialmente no Sul da França. Na Itália, o partido neofascista de Fini governou quase uma década juntamente com Berlusconi. Na Polônia, vergonhosamentre, o atual governo é apoiado por dois partidos radicais de direita. O NPD da Alemanha nunca esteve no Parlamento – excetuado um curto período nos parlamentos estaduais –, nunca participou do governo. Entretanto temos naturalmente um radicalismo de direita, que também se mostra violento. Não é apenas tarefa da polícia coibi-lo, mas também uma questão da mentalidade da população. Acima de tudo, esse brutal radicalismo é incentivado por palavras levianas ou demagógicas dos políticos. Quando, por exemplo, o senhor Stoiber fala de uma "miscigenação" do povo alemão, está empregando um vocabulário que, no final das contas, dá razão aos violentos entre os radicais de direita.
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