sábado, 2 de maio de 2009

Dominique Lecourt

A atração pelo desconhecido parece ter sucumbido ao medo do incerto. De agora em diante, o discurso dos biocatastrofistas domina o mundo. O processo da técnica é aberto por ter-se apoderado da vida. Médicos e pesquisadores são acusados de ameaçar a própria natureza humana, pondo de ponta-cabeça a procriação, a sexualidade, a alimentação, o envelhecimento, a morte... Em resumo, a humanidade estaria destinada a desaparecer. O fantasma de um bebê clonado mobilizou todo o medo do planeta: "crime contra a humanidade", "contra a espécie humana" ou, ao contrário, uma poderosa incitação destinada a provar uma inventividade normativa? O embrião humano é sagrado? Devemos abolir os dispositivos legais favoráveis ao aborto? Seremos capazes de repensar nosso modo de vida e nossas instituições modernas, razoavelmente dilapidadas? Anunciada outrora pelos tecnoprofetas como super-humanidade, o pós-humanidade é hoje pintada com os traços da própria desumanidade. Mas a ética não pode limitar-se a formular interdições. A sua vocação é explorar e sincronizar novos modos de ser. Essa é a responsabilidade de todos nós.

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