quarta-feira, 29 de abril de 2009

Jean Louis Missika

Durante muito tempo, a mídia teve, na França, um papel de destaque na formação da opinião pública. Para o senhor, que anuncia em uma de suas recentes obras “o fim da televisão”, qual é hoje seu papel?Se entendemos por mídia a imprensa escrita e audiovisual, é certo que assistimos ao fim de uma época, a uma forte diminuição de seu poder sobre a opinião pública. Claro, o poder da televisão continua a existir, mas está desgastado. Há menos de trinta anos, a televisão, investida de uma missão pedagógica, tinha também uma missão política. Esse modelo começou a desmoronar nos anos 80, com os canais por assinatura. E, nos últimos anos, com a multiplicação da oferta televisiva e o aparecimento da oferta digital - com a Internet e os blogs[1] -, a informação clássica, seja ela televisiva ou escrita, concorre hoje com novas fontes e novos modelos. Como se não bastasse, os estatutos do jornalista e do especialista também estão perdendo importância por uma espécie de banalização do acesso à palavra. Os votos de Ano Novo de Nicolas Sarkozy e Ségolène Royal na Internet, por exemplo, tiveram maior repercussão do que os de Jacques Chirac na televisão.Essa evolução tem seguramente conseqüências nas relações existentes entre a mídia e a política, entre a mídia e a opinião pública. Já a imprensa escrita sofre com a queda das receitas publicitárias e a falta de leitores. Os jovens, em particular, optam pela gratuidade e a Internet.
O que explica o crescimento dos novos produtores de informação que são a Internet e os blogs?O declínio da imprensa escrita é um fenômeno europeu, mas ocorre de maneira mais intensa na França, sem dúvida porque os jornais são mais vulneráveis financeiramente do que no resto da Europa. Na França, os jornais mais influentes, os que contam, passam por uma verdadeira crise. Provavelmente, o baixo custo da Internet na França - o acesso à banda larga é um dos mais baratos do mundo - é uma das razões do sucesso dos blogs. E os políticos já compreenderam isso, tanto que os utilizam cada vez mais. Entretanto, é a interatividade que está no centro dessa transformação radical da democracia, da vida política e da formação e expressão da opinião pública.O enfraquecimento do papel político da mídia fortalece o jornalismo participativo. Antes, a mídia de massa, sobretudo a televisão, favorecia e induzia o surgimento de uma exigência compartilhada pela maioria, o povo, o “demos”... Hoje, com as novas tecnologias, cada um dispõe de seus próprios meios para expressar-se, e é justamente a fala individual de um maior número de pessoas que entra no debate, o que pode torná-lo caótico e sem sincronia. Segundo o senhor, isso é ainda mais certo na França. Por quê?Com o sucesso da Internet, dos “chats”[2], dos blogs, etc., os franceses foram introduzidos na mídia “conversacional”, que coloca o público em pé de igualdade, que lhe permite interpelar o jornalista ou o político e reagir em tempo real. Se os blogs são, por exemplo, mais numerosos na França do que na Alemanha, é porque os franceses vêem nessas novas formas de informação a possibilidade de contornar o que consideram os duas maiores falhas da imprensa: a distância da elite dos jornalistas em relação aos cidadãos comuns e sua conivência com os políticos. Mas isso se deve também ao fato de gostarem do debate e, provavelmente, terem uma sede de expressão pessoal manifestada pelos milhões de “blogers” à sua maneira.

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