AV – Há um início de rizoma Deleuze – Guattari – Foucault – Lyotard – Klossowski – etc.?GD – Isso poderia ter sido feito, mas não se fez. Na verdade, só há rizoma entre Félix e mim.AV – A conclusão de Mil platôs consiste em um modelo topológico radicalmente original em filosofia. Ele é traduzível matematicamente, biologicamente? GD – A conclusão de Mil platôs é, na minha cabeça, uma tabela de categorias (mas incompleta,insuficiente). Não à maneira de Kant, mas à maneira de Whitehead. Categoria assume, pois, um novo sentido, muito especial. Eu gostaria de trabalhar esse ponto. Você pergunta se há transposição matemática e biológica possível. É provavelmente o inverso. Sinto-me bergsoniano, quando Bergson diz que a ciência moderna não encontrou sua metafísica, a metafísica que ela necessitaria. É essa metafísica que me interessa.AV – Pode-se dizer que um amor pela vida, em sua amedrontadora complexidade, o conduz ao longo de toda a sua obra?GD – Sim. O que me desgosta, teoricamente, praticamente, é toda espécie de queixa relativamente à vida, toda cultura trágica, isto é, a neurose. Suporto muito mal as neuroses.AV – Você é um filósofo não-metafísico?GD – Não, eu me sinto um puro metafísico.AV – Um século, para você, poderá ser deleuziano, leve? Ou você é pessimista sobre a possibilidade de se livrar da identidade e do poder dos traços?GD – Não, não sou, de forma alguma, pessimista porque não creio na irreversibilidade das situações. Tomemos o estado catastrófico atual da literatura e do pensamento. Isso não me parece grave para o futuro.AV – Depois de Mil platôs?
GD – Terminei agora um livro sobre Francis Bacon e só tenho agora dois projetos: um sobre“Pensamento e cinema” e um outro será um livro grande sobre “O que é a filosofia?” (com oproblema das categorias).AV – O mundo é duplo, macrofísico (e a imagem do pensamento aí funciona muito bem) e microfísico (é o seu modelo que, há anos, depois da mesma revolução em ciência, em arte, dá conta disso). Há uma relação polêmica entre esses dois pontos de vista?GD – A distinção entre o macro e o micro é muito importante, mas ela pertence mais a Félix que a mim. A mim toca, antes, a distinção entre dois tipos de multiplicidade. Isso é o essencial paramim: o fato de que um desses dois tipos remete às micromultiplicidades não passa de umaconseqüência. A mesma coisa para o problema do pensamento, e mesmo para as ciências, anoção de multiplicidade, tal como é introduzida por Riemann, me parece mais importante que a da microfísica.
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