sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Bertrand Badie

Bertrand Badie
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Le Monde: Por que conceder o Prêmio Nobel da Paz a um presidente eleito há menos de um ano?Badie: Barack Obama se distinguiu por um esforço de visão e de ruptura da política externa norte-americana. Atualmente, ele está em uma fase delicada. Ele dispõe de pouca assistência no espaço internacional e está pagando o preço de seu isolamento. Parece-me que o objetivo do comitê Nobel é consolidar a autoridade moral que ele está tentando constituir. O comitê tentou compensar esse efeito de isolamento para reforçar a autoridade moral do presidente no momento em que ela parece enfraquecer em relação às realidades internacionais. Estamos assistindo, neste momento, a uma redefinição intelectual da política externa norte-americana. Trata-se de questionamentos profundos: questionamento do unilateralismo advogado pelos neoconservadores, questionamento da crença no uso sistemática da força, questionamento da superioridade do Ocidente e da democracia ocidental sobre o resto do mundo. O que a posição de Barack Obama tem de realmente novo é uma moderação de tom e uma recusa em considerar óbvias soluções experimentadas nos anos 1990.Ora, Obama recebe o apoio da opinião pública em seus esforços, mas ele é pouco assistido pelos atores da política internacional, especialmente por uma Europa que continua fincada sobre posições mais tradicionais, que se assemelham a uma forma de "bushismo benigno".
O presidente norte-americano precisa de um forte apoio da sociedade civil internacional, e o comitê Nobel assumiu esse papel. Le Monde: Não é problemático para um presidente em exercício ser estabelecido como autoridade moral?Badie: Conceder o Nobel a Barack Obama é uma aposta. Concedê-lo a um presidente em exercício é bastante raro, e sobretudo isso muitas vezes não trouxe sorte ao laureado, que se sente obrigado pela autoridade a ele confiada. O comitê Nobel, de certa forma, pressiona Barack Obama a manter suas posições, a permanecer no eixo que ele escolheu até agora. Esse prêmio consagra sua posição de líder moral, mas também é uma forma de mantê-lo afastado de um retorno para a realpolitik, que sempre é possível. Isso acaba validando uma política externa que ainda não sabemos muito bem qual é, mas da qual será difícil se afastar.É também uma forma de lhe dar peso dentro de seu próprio país, onde sua política é paradoxalmente aprovada e ameaçada por uma opinião pública cética e uma contra-ofensiva dos republicanos sobre assuntos de política interna, e cada vez mais sobre escolhas de política internacional. Esse prêmio pode encorajar Obama a prosseguir com sua ação no Oriente Médio, onde atualmente ele se encontra em xeque, mas também diante do Irã, onde sua política de diálogo está em dificuldades, e no Afeganistão, onde é levado a exagerar o discurso. Obama, de certa forma, é reforçado em suas escolhas iniciais e incitado a adiar uma possível radicalização. Le Monde: Essa escolha é justificada, se considerarmos os outros nomeados, cujo percurso pode parecer mais rico de realizações?Badie: Devemos ser prudentes em nossa interpretação dos Prêmios Nobel. O critério de justiça não é o elemento mais determinante. O comitê é composto de seres humanos, e os prêmios que ele concede têm um significado político, antes de serem éticos. É impossível determinar quem é a pessoa ou a organização que trabalha mais pela paz e pela justiça mundial no momento atual. É preciso considerar o Prêmio Nobel como um ator internacional não estatal, o representante de uma certa forma de opinião pública internacional, um pouco como as grandes ONGs - Anistia Internacional, Human Rights Watch...Quando o prêmio Nobel da Paz é concedido a Begin e Sadat, isso traduz uma vontade de indicar que uma certa aproximação da questão do Oriente Médio merece ser apoiada. Quando o prêmio é dado a Gorbachev, é mais uma aposta política do que uma aposta moral. A escolha de Barack Obama me parece sábia, pois precisamos definir o mundo no qual estamos vivendo. Por enquanto, sabemos somente que estamos no "pós-1989", só isso. Não temos coragem de renovar nossas práticas diplomáticas, mas Obama mostra um pouco o caminho dessa redefinição. O comitê Nobel diz que essa direção é a certa. É uma escolha política com a qual podemos concordar ou não, mas que faz sentido.

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