sábado, 2 de maio de 2009

theodor hansch

Entrevista
http://www.drillingsraum.de/theodor_haensch/theodor_haensch_1.html
Num dos escuros corredores da universidade de Munique, um cartaz colorido mostra o “Heartbeat of Light”, mas Theodor Hänsch escolhe o título alemão “Pulsação da Luz” para suas conferências, o que também poderia ser o lema da sua vida (de pesquisador). Já quando era criança, Hänsch ficava fascinado pela luz, pondo sal, com seu pai, sobre a flama de um bico de Bunsen e vibrando com o espetáculo de cores produzidas. Hoje, mais de meio século depois, Theodor Hänsch tornou-se o “mágico da luz” da Física. Em nenhum outro lugar do mundo, as ondas de luz são medidas com tanta precisão como no laboratório de Hänsch, em Munique.Ele também pode, ao mesmo tempo, sentir-se um pouco como o sucessor de Einstein, que desenvolveu em 1905 a famosa “Hipótese do Quantum de Luz”, dando partida assim ao desenvolvimento da disciplina à qual Hänsch dedica-se hoje. O fato de o Comitê Nobel de Estocolmo agraciar agora a óptica quântica é, sem dúvida, uma reverência ao “Ano de Einstein”.Por outro lado, pode-se ver, através de Hänsch, que físicos modernos quase não correspondem mais aos clichês de Einstein. Enquanto este é tido como o protótipo do gênio solitário que, da sua sala de estudos, revoluciona a concepção do mundo, Hänsch, diretor do Instituto Max Planck de Óptica Quântica em Garching, perto de Munique, necessita de dúzias de pesquisadores e equipamento caríssimo. Ele cultiva um estilo moderno de pesquisa, com pouca hierarquia e com diálogos criativos em pequenos grupos. Além disso, tem uma queda por brinquedos técnicos.“Ted”, como ele é chamado pelos colegas, já usava uma câmera digital em conferências, quando ainda muito poucos sabiam como lidar com tais aparelhos. Na rodagem de vídeos, ele também foi pioneiro: num vídeo, ele fez esporos de licopódio dançarem ao som da música do balé Giselle, demonstrando assim o princípio de Paulfalle, segundo o qual partículas carregadas são retidas por um campo elétrico. Uma equipe de televisão ficou tão impressionada que tentou (em vão) reproduzir as cenas físicas de dança.
A edição alemã do Financial Times chamou o pesquisador de “Professor Pardal”. Seus próprios colegas lhe atestam um “típico espírito brincalhão”. Sua “sala de brincadeiras” é um pequeno laboratório na universidade de Munique, repleto de lasers, microscópios, monitores e transformadores que ele, em parte, arrematou no eBay. Quando tem uma idéia, vai ao laboratório e tenta pô-la em prática, diz ele. Desta maneira espontânea surgiu também o “laser do pudim de gelatina”. No começo da década de 70, Hänsch, que após seu doutorado em Heidelberg foi para a Stanford University na Califórnia, descobriu que líquidos coloridos sob intensa irradiação com laser se transformam em fontes coloridas de laser. Sem perder tempo, ele correu ao supermercado e comprou vários tipos de pudim de gelatina e os irradiou, na esperança de obter fontes coloridas de luz. O experimento não teve o sucesso esperado, mas Hänsch não se irrita com tais fracassos. Seguindo seu lema de “cometer erros depressa”, continuou experimentando com outros materiais. Pelos seus experimentos inconvencionais, ele foi eleito o “California Scientist of the Year” em 1973.O reconhecimento de que supostos fracassos levam a soluções criativas é, em certo sentido, um dos elementos construtivos da óptica quântica. Mesmo Albert Einstein já se confrontara, há cem anos, com uma suposta contradição: naquela época, a luz era descrita, por um lado, como a equação de ondas eletromagnéticas. Por outro lado, se sabia que a luz, ao incidir sobre uma placa fotográfica, sempre era absorvida em porções de energia. Como uma onda pode ser dividida em porções? Einstein solucionou o problema, dando à luz uma estrutura “granular”, segundo a qual a luz se propaga de forma ondular, mas, incidindo sobre um corpo, ela distribui sua energia somente em pacotinhos discretos (quantum de luz).A idéia fosse totalmente contrária à douta lei (de até então), mas logo se descobriu que, com esses novos “saltos quânticos”, era realmente possível descrever o elemento chamado luz. Mais ainda: também se produziam efeitos semelhantes na reação de átomos, eletrodos e moléculas. Desta maneira, a física quântica revolucionou todo a nossa compreensão do mundo nuclear, possibilitando o desenvolvimento do laser e do computador e nos presenteou com todo esse arsenal de técnica moderna, desde o tocador de CD até ao celular.Sendo assim só se pode concluir que, cem anos depois do “annus mirabilis” de Einstein, são agraciados com Prêmio Nobel de Física aqueles pesquisadores que tiveram uma participação decisiva nesse desenvolvimento. Roy Glauber formulou na Harvard University, na década de 60, as bases teóricas da óptica quântica. Theodor Hänsch e John Hall, este, professor na University of Colorado em Boulder, demonstraram como se pode domesticar essa luz.Ninguém, na physical community, se admira que Hänsch seja um dos portadores deste prêmio. Mas o que surpreende seus colegas alemães é que ele o receba só agora, pois já fez trabalho pioneiro em muitos outros ramos. Nos anos setenta, ele mostrou como se podem frear os átomos através de raios laser (e, conseqüentemente, esfriá-los), criando assim as condições para a produção dos chamados condensados Bose-Einstein de átomos extremamente frios, pelos quais seu compatriota Wolfgang Ketterle recebeu o Prêmio Nobel de Física de 2001. Mas também na chamada espectroscopia a laser, Hänsch é considerado, no mundo todo, a capacidade incontestável. Ele mediu as linhas espectrais da luz produzida por um átomo de hidrogênio até 15 casas depois da vírgula, apresentando assim o teste mais preciso de determinadas constantes naturais até hoje.O melhor exemplo do potencial de invenções de Hänsch pode ser demonstrado no seu “pente de freqüência”, desenvolvido em 1997, e que lhe proporcionou o Prêmio Nobel. Antigamente, as freqüências de cada raio laser (que percebemos como cores) só podiam ser medidas indiretamente, pelo comprimento de suas ondas. Mas este método não era suficientemente preciso para as exigências modernas, nas quais é necessário determinar freqüências de um quadrilhão de vibrações por segundo.Por esta razão, Hänsch imaginou uma espécie de “mecanismo de transmissão” para a luz, cujo centro é um laser de referência, no qual um impulso de luz é preso, como numa jaula, por quatro espelhos e atirado de um lado para o outro um quadrilhão de vezes por segundo. Um dos espelhos é um pouco transparente. Graças a uma regulação variada, ele pode ser posicionado de tal maneira que, após cada milhão de vibrações da freqüência do laser, um impulso de luz escapa para fora. O procedimento a alta velocidade no interior permite que se acompanhe, exteriormente, com toda calma, os cálculos numa redução de milhões de vezes.Com outros truques, Theodor Hänsch faz com que o laser não irradie só a luz de uma freqüência, mas centenas de milhares de cores simultaneamente, ou seja, uma espécie de escala musical da luz. Se quiséssemos transpor essas cores para as teclas de um piano, estas teriam que estar tão perto umas das outras como em um pente fino para piolhos. Por isto, este mecanismo foi batizado de “pente de freqüência”. Ele poderá ser uma contribuição decisiva para a construção de relógios atômicos mais precisos, para melhorar a navegação via satélite ou para aumentar o índice de transmissão de dados nas redes de fibras de vidro.Mesmo que Hänsch tire proveito comercial dos seus produtos através da firma emergente Menlo Systems, o dinheiro, para ele, é coisa secundária. Se ele estivesse atrás do lucro, teria ficado nos EUA. Mas voltou para a Alemanha em 1986, pois “quem quiser encontrar algo de novo precisa de promotores pacientes”, diz Hänsch. “E estes são encontrados na Alemanha”.

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