São dois os principais alvos do pensamento político do filósofo Espinosa (1632-77). O primeiro é determinar o regime de governo mais favorável ao convívio dos homens - para o filósofo, é a democracia. O segundo, é o exame dos principais obstáculos a esse regime. Para Espinosa, os maiores impedimentos à vida democrática são a superstição e a divisão social. A superstição serve de álibi para regimes que buscam seu fundamento nas religiões, e a divisão da sociedade em classes leva a excluir partes dessa sociedade das decisões políticas.Numa época em que o pensamento político afirmava que a estabilidade e a paz só podiam ser garantidas por um Estado forte como a monarquia absoluta, Espinosa demonstrou que a democracia é ´o mais natural dos regimes políticos´, pois é o único que satisfaz ao desejo inato de todo ser humano de governar e não ser governado.Quando a religião se oferecia como sustentáculo ideológico do poder - segundo a crença de que os governantes representavam o poder de Deus e governavam por mandato divino -, Espinosa demonstrou que nada há de mais perigoso para a liberdade, a segurança e a paz da república do que a fundamentação teológica da política, isto é, o que chamamos hoje de fundamentalismo religioso.Subversivas em sua época e na nossa, as idéias espinosanas nos propõem tomar a prática política como invenção nascida do desejo e das paixões humanas.
sábado, 2 de maio de 2009
marilena chaui
Os ensaios aqui reunidos exploram as várias perspectivas sob as quais Merleau-Ponty elaborou uma ontologia do Ser Bruto e do Espírito Selvagem, graças à crítica ao dualismo da essência e do fato, posto pelas filosofias da consciência e pelo objetivismo cientifista. Distanciando-se da fenomenologia, de onde partira, o filósofo interroga a percepção para chegar à noção de corpo reflexivo, de onde se desdobra a nova ontologia. Distanciando-se da Gestalttheorie, de onde também partira, o filósofo reelabora a noção de estrutura como "inteligibilidade em estado nascente", que supera o dualismo das filosofias do sujeito e do objeto. A ontologia, nascida como interrogação sobre o ser do visível e do invisível como "Ser de indivisão", pode ser acompanhada por nós na maneira como Merleau-Ponty interroga o trabalho dos artistas, particularmente o do pintor e do escritor, e na maneira como sua própria obra se realiza como experiência do pensamento.
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