sexta-feira, 1 de maio de 2009

Elisa Maria da conceição Pereira Reis

Elisa Maria da conceição Pereira Reis
http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhepesq.jsp?pesq=5112000100248158
As ciências sociais vão bem?Elisa Reis — Tentarei responder de forma bastante esquemática, já que seria mesmo impossível contemplar todas as nuances pertinentes. Assim, vou me limitar a três observações. A primeira delas tem sinal positivo. Eu diria que sim, as ciências sociais vão bem no Brasil e no mundo, se o critério de avaliação for a magnitude e a urgência das questões com que elas se defrontam no presente. Em certo sentido essa afirmação não passa de um lugar comum, já que as ciências sociais, desde sua constituição, sempre se viram às voltas com problemas urgentes, situações de crise etc. No entanto, gostaria de ressaltar que a grande perplexidade do momento é acrescida pelo fato de que muitos dos termos, dos conceitos fundantes das ciências sociais, perderam sua centralidade ou passaram a competir com uma série de outros na estruturação das próprias disciplinas. Assim, assistimos a uma grande disputa no interior dessas ciências, disputa essa que é tanto intelectual quanto institucional. Na minha opinião, essa própria disputa deve ser vista como indicativa da vitalidade das ciências sociais.A segunda observação diz respeito às ciências sociais no Brasil, especificamente. Eu diria que sim, elas vão bem se levarmos em conta que somos um corpo de profissionais que cresceu muito nos últimos 20 anos; que formamos cada vez mais mestres e doutores; que publicamos muito mais, e que nos tornamos uma comunidade científica mais complexa, mais diversificada, mais plural.A terceira e última observação também é restrita ao contexto nacional, mas agora com sinal negativo. Eu diria que em virtude da situação peculiar que a universidade brasileira vive hoje, há razões para preocupação e incerteza. Dados os constrangimentos internos e externos com que se deparam nossas estruturas acadêmicas, é possível que a formação de novas gerações de cientistas sociais se veja seriamente comprometida.O desenvolvimento da pós-graduação e da pesquisa em ciências sociais ?Elisa Reis — Talvez eu possa partir da observação informal que foi feita de que Fábio e eu "invadimos" um pouco o terreno um do outro, com observações sobre a Sociologia no caso dele e sobre a Ciência Política no meu caso. É que nós dois somos de uma geração em que a distinção entre estas disciplinas era ainda muito tênue. Eu acho que, ao longo desses 20 anos de Anpocs, houve uma diferenciação notável, um descolamento progressivo das duas disciplinas. Se pensarmos na origem da Anpocs, era muito mais difícil diferenciar as duas comunidades do que é hoje. Hoje em dia já existe uma diferenciação institucional mesma. Essa pode ser evidenciada na definição dos programas de pós-graduação, nas linhas de pesquisa, na bibliografia das publicações de uma ou outra dessas disciplinas, coisa que não acontecia antes.Creio que a separação entre as disciplinas sociais — as três que a Anpocs contempla — é fruto da institucionalização profissional. Quanto mais se institucionaliza a profissão, mais fácil torna-se identificar as diferenças entre as disciplinas. No caso dos Estados Unidos e da Europa, ninguém tem dúvidas quanto à identidade distintiva de cada uma delas. Aqui ainda temos vestígios de sobreposição entre a Sociologia e a Ciência Política. De qualquer forma, a maturidade do sistema de pós-graduação a que assistimos ao longo do período sobre o qual estamos falando sugere claramente uma separação maior entre as duas disciplinas.Já em relação à Antropologia, eu penso que ela sempre teve uma especificidade maior, por razões histórico-institucionais do Brasil. A Antropologia e a Sociologia são mais ou menos contemporâneas nos nossos programas acadêmicos, ao passo que a Ciência Política, como disciplina, aparece muito mais tarde. Por isso ela foi tão tributária da Sociologia.É importante salientar que a simbiose tradicional entre a Sociologia e a Ciência Política expressa também, de fato, uma comunalidade de interesses de pesquisa. Isso é, embora a Sociologia seja, de uma certa forma, vista como a mãe de todas as ciências sociais, a verdade é que a Sociologia brasileira no passado era mais politizada do que é hoje. O predomínio da Sociologia Política no passado era muito grande. Hoje, até porque se criou um canal específico para os estudos sobre a política, a Sociologia não é mais tão marcadamente uma Sociologia Política como ela era. É claro que tudo isso precisa ser visto sem exageros. Sempre tivemos cientistas sociais mais afinados com a análise política e creio que sempre teremos pessoas, como o Fábio Wanderley e como eu mesma, que ainda estão muito dentro do recorte da Sociologia Política.Em resumo, o quadro que comentei é parte da história das ciências sociais no Brasil, e ao longos dos últimos 20 anos a Anpocs foi um agente importante nessa progressiva institucionalização da autonomia disciplinar. Restaria comentar ainda o movimento inverso de implosão das fronteiras disciplinares, movimento que é tão acentuado hoje. Mas, para não me alongar demasiado, eu diria apenas que podemos ver esse processo como a gestação de novas especializações disciplinares.Ao longo dos últimos 20 anos caminhamos muito, consolidamos muita coisa. Lutamos juntos contra muita coisa e, nesse momento, o quadro se alterou. Quer dizer, não há dúvidas de que temos algumas dificuldades em comum, mas não temos mais um grande inimigo comum. Esse é um primeiro aspecto do impacto da democratização nas próprias instituições das ciências sociais. Um outro aspecto importante é que temos muito mais instituições e pesquisadores competindo por recursos. Como não houve uma ampliação tão significativa dos recursos, somos mais atores competindo pelos recursos disponíveis. Assim, o que às vezes parece desestruturação é, de fato, uma saudável vitalidade da comunidade. Acho que parece desestruturação pelo próprio fato de que estávamos muito "estabelecidos" como instituições. Vivemos um processo de crescimento, maturação, consolidação. Grande parte dos programas de ensino e pesquisa podiam se dizer consolidados, e aí começaram a surgir novos atores na arena. Durante algum tempo fomos um número fixo de parceiros. Claro que houve sempre crescimento, ampliação, mas, de uma certa forma, o jogo se consolidou com um número determinado de parceiros. A entrada de novos competidores desestabiliza o jogo, o que não quer dizer que quem estava jogando antes vai necessariamente perder. O fato é que as regras são mais ou menos as mesmas, mas as mesmas regras com um número maior de competidores geram resultados diferentes.A verdade é que quanto mais bem institucionalizado está o sistema de pós-graduação e pesquisa, mais a entrada de novos competidores e a introdução de inovações no sistema vão provocar desconforto para atores já consolidados. Eu acho que nos compete ter lucidez para entender que continuamos sendo jogadores aptos, que o jogo vai continuar.
Relações com a comunidade científica internacional ?Elisa Reis — Vamos começar pela América Latina. Claro que essa é uma visão muito pessoal e que existem muito mais esforços de interação e de integração do que os que eu conheço. Mas, na minha percepção, o Brasil tem uma certa vocação isolacionista em relação à América Latina. Acho isso até certo ponto compreensível. É um pouco fruto da dimensão continental do país, apesar de que a Índia também é continental e, no entanto, dialoga tanto e publica tanto fora de suas fronteiras. Claro que há uma diferença fundamental: eles publicam em inglês e, por isso, já estão, de saída, em posição mais favorável no mercado mundial. É preciso também qualificar essa observação, pois se é verdade que os cientistas sociais indianos interagem mais que nós com a ciência social internacional, isso não se aplica à maioria. Se observarmos o vasto sistema universitário da Índia, veremos também que a dinâmica interna do sistema faz com que grande parte da produção seja muito fechada em si mesma.No Brasil, sem dúvida alguma, temos alguma dificuldade nesse sentido. Apesar da grande próximidade com a língua espanhola, não temos tanto estímulo para interagir com a América Latina. Isso mudou um pouco nos anos 60. Até o fim da década de 60, o Chile era um pólo de irradiação em ciências sociais na América Latina. A Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), que foi a pioneira dos programas de pós-graduação na América Latina, cumpriu um grande papel integrador. Havia ainda a Escolatina, o ILPES, o CELADE, todos localizados no Chile. Essa concentração tinha a ver, sobretudo, com a estabilidade política, com a tradição democrática do Chile.Isso acabou com a onda autoritária dos anos 70. O Chile deixou de ser democrático e eu acho que nessa fase de declínio da hegemonia hispânica nas ciências sociais o Brasil foi ganhando maior peso. O que eu estou caracterizando como chileno era a vocação cosmopolita, porque todos esses programas eram programas internacionais. Antes disso a Argentina já contava com uma produção em ciências sociais digna de destaque, mas que começou a sofrer os efeitos do autoritarismo muito mais cedo do que nós no Brasil. No começo dos anos 60 a Argentina estava experimentando levas de emigrações de cientistas sociais e, naturalmente, o sistema universitário começou a ser desmantelado. O México sempre teve uma produção digna de nota, mas não sei se pela proximidade dos Estados Unidos e a distância do Brasil, o fato é que havia — e há até hoje — pouca interação.Com a implantação do sistema de pós-graduação nas universidades brasileiras nos anos 70, o Brasil assumiu mais e mais um papel relevante na formação de mestres e doutores. A introdução de programas formais de mestrado e doutorado em outros países latino-americanos é muito posterior e, em muitos casos, ainda não aconteceu. Creio que existe pouca integração, mas mesmo assim preciso qualificar isso. Estou pensando no grande número de alunos latino-americanos que nossos programas no Brasil têm formado — temos formado argentinos, uruguaios, paraguaios, peruanos, bolivianos etc. Creio que temos tido uma contribuição importante na formação de pesquisadores e professores universitários que retornam a seus países de origem.O interesse de certos países latino-americanos por nossos cursos de pós-graduação é enorme e está crescendo. Não temos ainda uma visão de conjunto, e acho que a questão está merecendo um estudo: o impacto dos programas de pós-graduação e pesquisa no Brasil junto aos países da América Latina.Nas atividades de pesquisa tem havido menos parceria. Aí existem dificuldades recíprocas no que diz respeito à comunicação, aos recursos financeiros e outros. Claro que há exceções. Por exemplo, os estudos sobre democratização — primeiro, transição democrática e, depois, consolidação democrática. Aí acho que houve um esforço notável de integrar pesquisadores de diferentes países latino-americanos. De qualquer forma, de uma maneira geral as iniciativas são ainda muito experimentais. É muito difícil encontrar uma pesquisa comparativa sistemática envolvendo pesquisadores latino-americanos. O mais comum são coletâneas de estudos de caso. Desenhos comparativos de pesquisa praticamente inexistem no Brasil e em outros países da América Latina.Para mim, esse é um dos desafios mais interessantes com que nos confrontamos hoje. Comparar, por exemplo, os processos de mobilidade nos anos 80 no Chile e no Brasil. Começam a surgir algumas iniciativas que podem contribuir de forma significativa nesse sentido. Penso, por exemplo, no esforço já iniciado no âmbito do Mercosul para trocar experiências, padronizar as políticas de pós-graduação etc.Também na relação com os Estados Unidos, acho que há uma questão temporal que merece ser contemplada. Se pensarmos em meados dos anos 60, mas sobretudo nos anos 70, um número enorme de pesquisadores brasileiros foi treinado nos Estados Unidos. Já é lugar-comum dizer que nesse período houve uma reorientação acentuada, substituindo-se a Europa pelos Estados Unidos como pólo de influência nas ciências sociais brasileiras, e não preciso repetir essa história. O fato é que a criação dos programas de pós-graduação no Brasil, na sua origem, foi muito marcada pela experiência das pessoas treinadas nos Estados Unidos, pessoas que fizeram o mestrado ou o doutorado fora. Nosso modelo guarda até hoje muita proximidade com o americano.Isso sempre tem de ser qualificado, porque também nunca jogamos fora nossa própria tradição intelectual, por um lado, e nossa experiência de interação com a Europa, por outro. Assim, por exemplo, devagarzinho, a experiência de ser treinado na França foi sendo recuperada também. Acho que nossa reflexão ficou um pouco parada no tempo e continuamos repetindo longamente a história do peso avassalador do treinamento nos Estados Unidos. Na verdade a história não é bem assim. Se examinarmos os dados, veremos, por exemplo, que o número de cientistas sociais que vai estudar na França é muito alto. O número de pessoas formadas na Inglaterra também. Acho que nesse aspecto a experiência brasileira tem sido bastante pluralista. O que me preocupa é uma certa preferência, que identifico com freqüência na comunidade, por internalizar totalmente a formação dos cientistas sociais: essa idéia de que o Brasil já consolidou um programa de doutorado, que já não precisamos mais mandar gente para fora, exceto em casos muito excepcionais. Vejo isso com muita preocupação. Por um lado, não há dúvidas sobre quão caro é manter um aluno estudando fora do Brasil. Não podemos correr o risco de errar na seleção porque o custo de treinar gente fora é realmente muito alto.Por outro lado, acho que é essencial, fundamental, formar cientistas sociais fora do Brasil. Senão corremos o risco de cair em um paroquialismo, em um provincianismo muito grande. A afirmação mais ou menos corriqueira de que "é um absurdo mandar brasileiros estudar o Brasil longe do país" não me parece razoável. Acho, ao contrário, que é fundamental estudar o Brasil também de fora do Brasil. O risco que a gente corre é achar que aqui "temos uma dinâmica peculiar", que "temos de estudar os nossos problemas é aqui mesmo". Aí, o aluno motivado a estudar fora começa a inventar um projeto inviável no Brasil para poder justificar a necessidade de sair. Creio que há um equívoco nisso tudo. Temos de mandar alunos estudarem o Brasil lá de fora também para colocar o Brasil em perspectiva, e para que eles possam ser o contraponto aos que estudam o Brasil aqui de dentro.Quanto às influências das relações com o exterior em nossos temas ou nossas teorias, minha opinião é a seguinte: influência, todo mundo exerce sobre todo mundo o tempo todo. Diz-se muito que o Brasil é referenciado para fora, mas a comunidade de cientistas sociais, de certa forma, é uma comunidade internacional. Compartilhamos muitas preocupações com colegas de outros países. Por exemplo, temas de grande popularidade no momento, como globalização. É claro que você pode dizer que isso chegou ao Brasil via Estados Unidos, chegou ao Brasil via Europa. Chega de todos os lados. A globalização é isso: nós todos influenciando uns aos outros o tempo todo. Acho que podemos nos postular como parceiros, de igual para igual, de cientistas sociais de outros países e juntos definirmos a nossa temática.É claro que, por exemplo, a teoria sociológica tem mais produção, mais fontes de publicação, em outros contextos do que no nosso. Então, é natural que os modelos teóricos que nós discutimos, que nós passamos para os nossos alunos, sejam modelos, via de regra, muito mais vitalizados fora do Brasil do que aqui. A grande maioria da produção teórica em Sociologia continua sendo americana, francesa, inglesa, alemã. Não há dúvida. Isso se explica pela institucionalização da Sociologia, pela história das instituições acadêmicas daquelas sociedades. Outras nações européias não têm a mesma visibilidade teórica que têm os países que mencionei. Muitas vezes perdemos a dimensão das coisas e ignoramos que algumas Sociologias na Europa estão menos consolidadas do que a nossa.Sobre a relação com a comunidade internacional no que diz respeito à pesquisa, comparativamente às outras ciências, creio que as ciências sociais ainda estão bastante isoladas. Há pouca gente trabalhando nesse front, em parte pelas razões que já apontei — temos muitos projetos de pesquisa "artesanais" e poucos projetos de equipe. Além disso, muita gente trabalha pensando na especificidade brasileira, e aí fica difícil comparar, porque parte-se do suposto de que o Brasil é diferente. Acho que isso está sendo aos poucos superado, mas durante muito tempo essa perspectiva foi dominante.
Áreas temáticas e abordagens metodológicas ?Elisa Reis — No caso da Ciência Política, acho que é relativamente fácil identificar áreas temáticas predominantes ao longo dos últimos 20 anos. Eu diria que os temas políticos nacionais predominaram. De maneira geral, quase todos nós nos propúnhamos, primeiro, a decifrar a esfinge do autoritarismo. Estudamos a temática do autoritarismo, depois estudamos a transição, e agora estudamos a consolidação democrática. Da perspectiva da Sociologia, a questão é menos clara. Também aqui há conexões muito íntimas com a vida política nacional, mas a identificação temática é menos óbvia. Acho ainda que é preciso pensar a questão não apenas da perspectiva da oferta, mas também da perspectiva da demanda de pesquisa. Muitos dos temas da Sociologia surgiram em resposta a uma demanda. A título de exemplo, pensando na origem da Anpocs, lembro que há cerca de 20 anos atrás surgiu uma grande demanda — ou uma produção incentivada — por estudos de
gênero. Outra temática incentivada nessa mesma época foi a da saúde.É preciso lembrar também que, lamentavelmente, alguns temas perderam espaço na investigação sociológica. Por exemplo, os estudos sobre estratificação e mobilidade social, tema clássico na Sociologia, e que no Brasil tinha uma certa tradição. A área foi perdendo espaço. Existem honrosas exceções, mas hoje pouca gente trabalha com esse tema na comunidade dos sociólogos. Considerando que contamos, no Brasil, com uma fonte de informação sistemática excelente que é a PNAD, é pena que não a utilizemos mais intensamente.Acho que o declínio dos estudos quantitativos tem um pouco a ver com isso. Hoje em dia temos muito mais ensaios sociológicos. Há mais trabalho de tipo artesanal. E estudar estratificação social dessa perspectiva é, de fato, impossível. Este é um aspecto que acho muito importante. Acho que a idéia de trabalho de equipe se perdeu um pouco, muito em função de adversidades no que diz respeito ao financiamento de pesquisas, mas também por uma inclinação nossa. Quer dizer, de certa forma, nós temos uma tradição ensaísta que sobre vive. Redefinida, modernizada, dialogando com a bibliografia do presente, mas um certo ensaísmo que é quase uma marca registrada nossa. Acho que isso é bom por um lado, porque permite muita originalidade, mas, por outro lado, deixa lacunas.Seja como for, é importante lembrar que, do ponto de vista da definição temática, as influências são mais claras no caso do financiamento externo. As fundações e instituições estrangeiras que financiam pesquisa dizem à sua clientela brasileira quais são os temas que lhes interessam. Nem sempre há uma opção tão estreita por tal ou tal tema, mas há uma definição de parâmetros. Enfim, elas dizem que tipo de estudo lhes interessa financiar, o que é perfeitamente legítimo.No que diz respeito às instituições nacionais não se dá o mesmo. Ressalvadas definições muito genéricas de temas prioritários, não há uma definição de linhas de pesquisa "financiáveis".
Impactos das ciências sociais na sociedade nacional ?Elisa Reis — Quanto a esse aspecto, gostaria de salientar sobretudo a questão da relevância política e da relação com a democratização. Creio que essa é uma característica marcante da ciência social brasileira: estamos o tempo todo desempenhando alguma missão nacional. É assim que tendemos a ver nosso exercício profissional. Pessoalmente, valorizo isso. Certamente porque estou inserida nessa cultura. Acho que se há uma coisa que nos une, que realmente faz de nós uma comunidade de cientistas sociais no Brasil, um dos aspectos mais fortes da nossa prática, é essa forte identificação que temos com a causa nacional. O que é curioso, já que muitos de nós estamos estudando o declínio do nacionalismo. E, de fato, a idéia do nacionalismo já perdeu muito espaço. Mas, até mesmo como categoria social, como intelectuais, continuamos, de uma certa forma, pensando em nossa missão nacional, em nossa obrigação diante da sociedade brasileira. Que contribuição podemos dar? Talvez eu me engane, mas na interação com colegas estrangeiros e na experiência de ensinar fora do Brasil, acho que essa dimensão é muito mais presente para os cientistas sociais brasileiros do que para muitos outros.Principais problemas e perspectivas das ciências sociais brasileiras?Elisa Reis — Creio que nas observações anteriores já me detive na consideração de nossos problemas e nossas perspectivas. Gostaria apenas de voltar às minhas observações iniciais quanto à perplexidade radical que vivem hoje as ciências sociais em geral e a Sociologia em particular. Quando nossos conceitos fundantes não cumprem mais o papel de estruturar nosso pensamento, ou quando só ainda o fazem de forma muito segmentada, é sinal de que a confusão está instalada. Perceber essa confusão de forma positiva ou negativa é, em grande parte, uma opção epistemológica. De minha parte, faço a aposta tradicional no potencial revitalizante da crise.Gostaria apenas de concluir enfatizando que os 20 anos de Anpocs são parte de uma história de muitos desafios, muita ousadia e muita criatividade nas ciências sociais brasileiras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário