sexta-feira, 1 de maio de 2009

Arthur Rimbaud

Em 10 de novembro de 1891, em um asilo de Marselha, morria Arthur Rimbaud, ao final de uma longa e dolorosa agonia. Ele tinha trinta e sete anos e sofria de câncer nos ossos, o que o levou à amputação da perna direita em uma primeira hospitalização. Por mais breve que tenha sido, a vida de Rimbaud não deixa de constituir um dos grandes enigmas da literatura francesa.Gênio precoce, ele produziu entre os quinze e os dezoito anos uma obra poética de grande maturidade, fundadora da poesia moderna, antes de renunciar à escrita para se tornar explorador e traficante de armas na Abissínia (atual Etiópia). Rimbaud nunca mais escreverá e chegará mesmo a classificar a sua obra de outrora de “rinçures” (de má qualidade). Mais de cem anos após a sua morte, os pesquisadores e críticos literários continuam a se interrogar sobre as verdadeiras razões que puderam levar o poeta do Bateau Ivre (Barco embriagado) a rejeitar de maneira tão brutal a poesia e cortar as pontes com o mundo literário parisiense que antes ele queria tanto surpreender.Para Claude Jeancolas, que acaba de dedicar ao poeta uma imponente biografia, é preciso buscar essas razões não em uma crise qualquer de fim de adolescência, nem na falta de reconhecimento, mas na tomada de consciência fatídica de que a poesia é incapaz de “Mudar a vida”.
“Ele havia amado o mundo, escreve o biógrafo. A terra, sua terra, não seria o lugar de aflição das almas à espera de uma salvação, seria um planeta vivo onde o espírito sopraria para longe essas imagens do inferno, onde os homens viveriam como reis. E os sonhos desmoronaram, com o abismo debaixo dos pés, a dúvida, o comum a ser aceito e a amar, mesmo com um estranho sentimento de compaixão, embora ele não fosse senão um pálido reflexo e excessivamente vulgar da verdadeira vida, entrevista em sonho e em projeto. (...) A poesia que havia sido o instrumento primeiro dessa busca viu-se ao mesmo tempo acusada de impotência e banida.”Autor de várias obras sobre Rimbaud, Claude Jeancolas é um dos maiores especialistas da “Rimbaldia”. Nessa biografia em que ele segue passo a passo seu modelo, “das brumas do Meuse ao inferno dos desertos dankalis” (da Etiópia) passando por Paris, Londres e Bruxelas, onde se desenrolaram os amores e a ruptura dramática de Rimbaud com Verlaine, ele traça o perfil de um homem revoltado, incompreendido, que impõe para si o silêncio “de uma noite sem fundo” para esquecer as miragens da poesia. É um livro extraordinariamente erudito e profundamente comovente!

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