Seus personagens lamentam a desindustrialização dos EUA. O sr. também?Sim. Quando era criança, lia a revista Popular Science e ia a excursões em fábricas. Sentia um orgulho infantil pelo fato de fabricarmos coisas neste país: nós estampávamos, tecíamos, soldávamos, galvanizávamos e perfurávamos coisas. Meu sonho durante um tempo foi me tornar engenheiro de linhas de produção. Agora, olho ao redor e penso: No que supostamente nossa grande economia é baseada? Papelão? Existe muito dinheiro antigo por aí, mas dinheiro sozinho não é nada. Os EUA já foram uma nação de consertadores, de inventores, de soldadores de fundo de quintal. Todo mundo sonhava em construir uma bicicleta melhor. Agora nossa única grande indústria é a guerra.
O sr. quer competir com Michael Moore?Não consigo competir com ele. Seu filme é americano em sua essência – grande, transbordante e cheio de toques humanos inocentes e humor. Honestamente, amei o filme e perdôo suas falhas. Não sabia que ele seria lançado enquanto escrevia Checkpoint. Meu livro tenta fazer uma coisa um pouco mais focada: mostrar qual é o sentimento quando se está contra a guerra e incapaz de fazer os tanques pararem.Qual é a sua opinião sobre o presidente George W. Bush?Bush e os membros de seu gabinete são criminosos de guerra, covardes e mentirosos. Às vezes acho que Bush deveria ir para a prisão perpétua por matar centenas de pessoas inocentes. Mas outras vezes não me sinto bravo por causa dele, que parece patético, ou engraçado, até fascinante – um homem inapropriado fazendo o máximo para ir adiante no exercício da liderança. Então, eu desejo que ele volte ao Texas, contrate um ghost-writer para escrever suas memórias e afunde na obscuridade que merece.
O sr. esperava reação forte, tanto à direita quanto à esquerda?É claro que esperava que o livro enervasse as pessoas dos dois lados. Um progressista, ou um conservador, não pode usar este livro para ir adiante com sua causa. Alguns leitores ficaram tão furiosos por eu quebrar um tabu – com um personagem pensando no assassinato de um presidente identificado e ainda no poder – que a visão deles se obscureceu e não conseguiram ler o livro como um romance contra a violência. Na verdade, tentei fazer o de sempre. Tentei escolher um tema pouco promissor, inumano, e virá-lo de cabeça para baixo para encontrar a face humana escondida sob ele. Tentei humanizar a estranheza e usá-la contra ela mesma. Felizmente, alguns leitores e críticos entenderam isso.Como o sr. responde aos que consideraram o livro politicamente ingênuo?Bem, se é ingênuo dizer que a guerra – preventiva e fútil – está errada porque pessoas inocentes são mortas, que seja. Se é ingênuo dizer que o assassinato é coisa errada porque o presidente é um ser humano e não deveria ser morto, que seja. Não é ingênuo, possivelmente, colocar essas duas coisas juntas num quarto de hotel e ver como elas interagem. O que a arte tenta fazer é descobrir o sentido por trás da complexidade moral e restabelecer certas verdades caseiras que precisavam ser óbvias o tempo todo, mas não são. O livro é um tipo de posto de inspeção (checkpoint) moral. Tem o objetivo de fazer o leitor parar e perguntar: “O que acabamos de fazer?” Como nosso país permitiu que esse ataque fosse adiante? Cada cidadão tem algum pequeno nível de cumplicidade com essa barbárie, mesmo aqueles que, como eu, reclamaram e marcharam contra isso. Poderíamos ter feito mais, protestado mais, sido mais corajosos.O senhor já visitou o Brasil?Lamento dizer que não. Meu pai esteve no Brasil por dois meses quando eu era uma criança muito pequena e voltou com vários cristais geológicos incríveis e com o disco Batucada Fantástica, que eu amei, que toquei muitas e muitas vezes e de que tentei imitar os sons. Então, infelizmente, isto é o Brasil para mim.
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