quinta-feira, 30 de abril de 2009

Lisa Randall

- Como a sra. se sente quando a comparam com a Jodie Foster?Lisa Randall - É engraçado. Imagino que deva ser lisonjeiro, mas também é perturbador. Em toda a carreira você tenta afastar o fato de que você tem uma aparência diferente e apenas fazer seu trabalho. É muito estranha a atenção que dão a isso. E realmente não tenho certeza de que me pareço com ela. Mas ela é uma das atrizes com aparência mais séria que conheço e muitas mulheres com mentes científicas se parecem com ela. É uma coisa gozada. - Quando ouvem falar de outras dimensões muitas pessoas logo pensam em coisas como mundos paralelos, planos espirituais ou ficção científica. Já lhe pediram explicações sobre esses assuntos?Randall - Muita gente pergunta sobre essas coisas. Perguntam-me também sobre experiências de quase morte, explicações sobre a consciência e outros fenômenos que esperam entender com outras dimensões. Respondo que só falo sobre leis físicas que entendemos. Especialmente quando se trata de assuntos como os que estudo, que são meio abstratos e podem soar como ficção científica. É muito importante não misturar fatos com ficção. Tomo muito cuidado para não fazer isso.Não sabemos ainda como o Universo é na realidade, mas conhecemos relações que podem ser deduzidas usando nossos conhecimentos da gravidade. Se fizermos determinadas suposições, algumas dessas suposições podem até ser testadas com experiências.Isso não pode ser feito quando se especula sobre planos espirituais ou em muitas das idéias de ficção científica. Só aceitei o uso de dimensões extra na física depois que muitos cientistas, inclusive eu, tentaram explicações alternativas. Explicar fenômenos espirituais com outras dimensões não tem respaldo científico. Não é o que me interessa, uma vez que não acho isso um caminho para avançar o conhecimento e porque isso é completamente diferente do que entendemos com a física.- O público leigo se surpreende também quando a sra. fala que a gravidade é uma força muito fraca? Afinal o senso comum diz que um bom tombo pode ser fatal.Randall - A idéia de que a força da gravidade é fraca está baseada em expectativas baseadas na mecânica quântica e na teoria da relatividade especial. Baseado no poder das outras forcas, como a eletromagnética ou as forças atômicas, era de se esperar que a gravidade fosse mais forte. Afinal um pequeno ímã atrai um clipe de papel competindo com a força gravitacional do planeta inteiro. É um grande mistério porque as diferentes forças têm intensidades tão diferentes.- O grande colisor de partículas do Cern (Conselho Europeu para a Pesquisa Nuclear, localizado na Suíça) denominado LHC, que começa a funcionar em 2007, pode comprovar partes da sua teoria envolvendo outras dimensões. A sra. sugeriu algum tipo de experiência específica?Randall - Dou sugestões e depois estudo e interpreto resultados. Realmente estou interessada em algumas "assinaturas" que podem aparecer nos experimentos. Se a teoria com a qual explicamos a fraqueza da gravidade for correta, vão aparecer rastros de partículas chamadas Kaluza-Klein, que teoricamente viajam em outras dimensões. Estudando massa e propriedades dessas partículas vamos poder inferir a existência de outras dimensões. É por isso que essas teorias são tão instigantes. Se estiverem corretas, vamos saber nos próximos cinco anos. O LHC (Grande Colisor de Hádrons) do Cern, um enorme acelerador de partículas que vai colidir prótons, terá energia suficiente para criar partículas que viajam em outras dimensões, se elas existirem. Medindo massas e propriedades dessas partículas vamos poder aprender sobre outras dimensões. - Em "Warped Passages", a sra. diz não saber por que um mundo de três dimensões poderia ser tão especial a ponto de responder pela realidade observada. Mas depois publicou um artigo na revista "Physical Review Letters" sugerindo que as leis da física podem ter uma preferência por três e por sete dimensões. A sra. vê algum tipo de idéia darwiniana nisso?Randall - É um tipo de conceito darwiniano: a sobrevivência do mais apto. Apesar de não haver nada nas leis fundamentais da física que diga que as três e sete dimensões são especiais, se você deixar um Universo de dez dimensões (como o sugerido pela teoria das cordas) evoluir, ao final você vai ver o domínio de objetos de três e sete dimensões chamados branas, nos quais provavelmente estamos. Eles sobrevivem porque diluem menos quando o Universo se expande e quando as interações são levadas em conta.- Será que o Super-Homem poderia vir ao nosso mundo trazendo forças nativas de outras branas ou dimensões, desafiando a gravidade?Randall - É possível. Isso não necessariamente desafiaria a gravidade, mas talvez eles experimentassem outras forças e a interação gravitacional diferentemente do que experimentamos.- Como a sra. se sentiu quando Lawrence Summers, reitor da Universidade Harvard, disse que existiam poucas mulheres cientistas devido a diferenças inatas entre os sexos?Randall - Suas afirmações estavam baseadas em idéias não-comprovadas cientificamente. Felizmente as pessoas sabem disso agora. Ele certamente agora sabe.- A sra. notou algum progresso na situação desde que passou a participar da força-tarefa em Harvard para tratar da pouca participação das mulheres na ciência?Randall - A administração tem agora um superintendente-assistente e um reitor-assistente com a ocupação explícita de monitorar os assuntos de participação das mulheres. Por enquanto é mais em nível de corpo docente, mas existem sugestões para melhorar o ambiente para estudantes também.- E para outras minorias, o que acha que deve ser feito?Randall - Só porque faço ciência e sou mulher isso não me torna uma especialista nesses assuntos. Eu faço física. Sociólogos e outros profissionais estudam explicitamente essas questões. Posso perceber situações que não são ideais para mulheres e minorias, mas não necessariamente sei o que podemos fazer para mudar. Certamente ter minorias mais ativas na ciência vai melhorar as coisas. Essa é uma das muitas razões que me levaram a escrever um livro. Ver pessoas como eu fazendo um livro certamente vai encorajar mais pessoas que não se ajustam aos estereótipos a entrar nesse campo. Acredito que a universidade encarar a existência de preconceitos e iniqüidades explícitas ou veladas já será um importante passo na direção certa. Deveriam existir orientações para ensinar ou lidar com estudantes direcionadas a pessoas que desavisadamente ignoram as minorias ou as tratam diferentemente. E em qualquer nível devem existir maneiras de lidar com problemas se e quando eles ocorrerem. E queremos também ter certeza de que o sistema educacional tenha um nível de excelência de modo que as pessoas não tenham de depender de redes e comunidades de apoio para aprender coisas e serem autoconfiantes.- O que a sra. pensa da função do desafio intelectual no desenvolvimento? No seu tempo de colégio, quando foi colega de classe de Brian Greene, vocês se sentiam desafiados? Eram considerados nerds?Randall - Fomos para uma escola "ímã". É uma escola pública, mas que você tem de passar por testes para entrar. Portanto os alunos eram mais inteligentes e valorizavam mais a educação do que os das escolas típicas. Eu gostava muito porque a escola era em Manhattan (eu morava no Queens). Tinha tanto tipo de gente a que as categorias mais comuns não se aplicavam de modo geral.E, sim, acho que se sentir desafiado é muito importante. Se os alunos se sentem entediados eles não vão ter inspirações. Desafios movem as pessoas para a frente. E quase sempre elas acham isso divertido.- A sra. escreveu "Warped Passages" para mostrar a um público mais amplo que as mulheres também podem fazer ciência. Já teve algum retorno dessa audiência?Randall - Essa não foi a única razão porque escrevi o livro. É um benefício colateral. Escrevi o livro para explicar o que está acontecendo no campo da nossa pesquisa. Queria tornar isso acessível ao público em geral. Gostaria que o público em geral entendesse nossas motivações e algumas conexões e gostaria também de desmistificar a ciência. Recebi um retorno muito positivo de homens e mulheres que leram o livro. Pessoas ficaram entusiasmadas. Apesar de eu ter pensado mais em mulheres jovens que deveriam fazer ciência, recebi muito retorno positivo de mulheres mais velhas, felizes de saber que existem pessoas fazendo coisas como as que faço. Mesmo que elas tenham feito escolhas diferentes, elas se sentem satisfeitas em saber que existem mulheres fazendo o trabalho que faço. - Por que a sra. não se sente à vontade falando sobre "essas coisas de mulher na ciência"?Randall - Freqüentemente sou questionada sobre esse assunto e em geral eu respondo. Mas meu trabalho não é sobre mulheres na ciência. Eu faço física. Quero ajudar a melhorar a situação, mas também penso que a melhor forma de fazer isso é me concentrar na ciência.- No caso de mulheres cientistas, a maternidade é o principal problema?Randall - Não sei se tem uma coisa que seja o principal problema para todas as mulheres ou todas as pessoas. Com certeza é difícil conciliar a carreira com a família com tantos problemas de disponibilidade de tempo que as duas coisas exigem. Seria bom conseguir facilitar tanto quanto fosse possível. Mas eu não sei a resposta.- A sra. levou um tombo grave quando escalava rochas e ficou meses engessada. Não é uma cientista tradicional que fique confinada a uma sala ou laboratório?Randall - Gosto de atividades físicas. É uma pausa de bem-estar contra a rotina de ficar apenas sentada numa sala. Mas estou sem tempo para tomar tombos de novo.

Um comentário:

  1. Lisa Randall é uma física teórica estadunidense, que parece ser extremamente séria no que faz. Por ser mulher e tanto mais pelo seu trabalho em teoria dos campos ela é inspiradora.

    Gostei muito do post. ^^

    ResponderExcluir